sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Igreja do Hospital da Misericórdia de Ílhavo: contributo para a História da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo.

Grupo de angariação de fundos para o Hospital
da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo, c. 1919
(fonte:http://www.ramalheira.com/paginas/rostos.htm)
  À semelhança do que aconteceu na maior parte das cidades e vilas de Portugal, a Vila de Ílhavo também teve o seu Hospital, gerido pela Santa Casa da Misericórdia, fruto da vontade de muitos e impulssionado pelo ilhavense Viriato Teles.

   Em Abril de 1919 são aprovados os estatutos da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo e a 1 de Maio de 1919 foi lançada a primeira pedra para a sua construção.
   

Direcção do Hospital de Ílhavo e grupo de Ilhavenses
que promoveram as festas de assentamento
da primeira pedra do Hospital de Ílhavo

   Na fachada posterior existiriam duas frestas do volume central com grades de ferro lendo-se, na da esquerda, as iniciais "JC" e, na da direita, a data de "1915" que crê corresponder a elementos da casa particular doada para a construção do Hospital.


 O edifício construído em U,  hoje adaptado a nova arquitectura, era composto por três volumes  criando um espaço rectangular que se abre diante da fachada principal. Adossavam-se à fachada posterior vários outros volumes que configuram aí uma disposição irregular, como o volume da Capela a sudeste.  A fachada principal apresentava no volume central piso térreo avançado com terraço corrido no segundo piso e acesso por escadaria perpendicular à fachada,  com guarda de ferro forjado. A porta disposta axialmente, rectangular, diante da escadaria, era antecedida por pórtico com dois pilares arquitrave e frontão curvo onde se lia a inscrição pintada HOSPITAL CONCELHIO / DE / ÍLHAVO, encimado por pedestal com estátua de vulto da Caridade, da autoria do mestre canteiro António de Freitas. 

   Em 1920, o edifício do hospital já se encontrava coberto e telhado e, em Setembro de 1922, inicia-se a obra de construção da capela do Hospital Misericórdia, anexa ao edifício, por iniciativa de Manuel Marques de Almeida Bastos tendo a Câmara Municipal de Ílhavo oferecido um retábulo de altar, uma tribuna, uns portões de ferro, um púlpito e um gradeamento que haviam pertencido ao extinto convento de irmãs religiosas de Calais de Ílhavo, existente anexo à Capela de Nossa Senhora do Pranto. Foi dedicada a Nossa Senhora de Fátima e benzida a 26 de Março de 1931. A benemérita D. Celeste Maria dos Santos ofereceu também um Cristo de bela escultura que encima o sacrário. 
Senhor Jesus dos Desprotegidos
inscrição: ass. Pereira Teles
Dai esmola ao nosso Asilo /
Cada um dá o que quer /
Esta casa será aquilo /
Que a Caridade quiser
   A Capela tem planta longitudinal composta por nave, capela-mor e sacristia do lado direito, volumetricamente distintos. Rebocada e pintada a branco, com elementos arquitectónicos modelados em argamassa e pintados de amarelo. A fachada principal está delimitada à esquerda e à direita por barras verticais, ligeiramente salientes e pintadas de amarelo, para simular pilastras que a dividem visualmente em dois panos, o maior correspondendo à nave e o menor simulando torre sineira. No pano principal, porta de arco pleno com pilastras e arquivoltas, encimada por dois óculos circulares e enquadrados por molduras de meias voltas suportadas por mísulas, sendo o todo rematado por cornija, que desenha uma meia volta sobre a linha da porta, e por colocados a par, empena de lanços, com volutas no vértice rematado em cruz. O pano de muro simulando torre, é encimado pela sineira de arco abatido. A fachada lateral noroeste tem duas janelas rectangulares molduradas sobre a linha média. A fachada posterior tem pequeno óculo circular na linha de base da empena e janela rectangular no corpo da sacristia.
   No interior, rebocado e pintado de branco, a nave de embasamento rematado por fina cornija salientada a amarelo, tem côro-alto sobre arcada de três arcos abatidos suportados por pilares de molduramentos pintados de amarelo, com balaustrada de madeira. O pavimento é de madeira assim como o forro de cobertura de secção poligonal pintada de azul. A meio da nave, do lado direito, encontra-se a imagem de Cristo crucificado dito Senhor Jesus dos Desprotegidos, de grande dimensão. O arco-triunfo pintado de amarelo, com pilastras e fecho saliente tem lateralmente, sobre mísulas, a imagem de São Brás, do lado direito, fazendo pendant com a imagem de Santo António de Lisboa. A capela-mor, de abóbada de berço rebocada e pintada de branco e pavimento de madeira, tem acesso por dois degraus, com retábulo muito simples de madeira pintada de branco e motivos pintados de dourado, constituído por duas colunas de fuste liso e capitéis compósitos, rematadas por frontão triangular onde se inscrevem os símbolos eucarísticos, formando um espaço central cujo fundo é a própria parede testeira, à qual se encosta o sacrário, de características decorativas afins, encimado por crucifixo. Lateralmente, na mesma parede, duas mísulas com as imagens do Sagrado Coração de Jesus em pendant com a imagem da Virgem de Fátima, sob e baldaquinos entalhados.

Provisão e autorização de bênção da Capela de Nossa Senhora de Fátima do Hospital
da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo, 26 de Março de 1931

   Ao longo dos anos, administrado pela Santa Casa da Misericórdia, o Hospital de Ílhavo foi cumprindo a sua função servindo não só a população concelhia, mas também os habitantes dos concelhos vizinhos.
   Em 1949, no dia 6 de Fevereiro é inaugurada a obra de compartimentação do piso térreo e construção de um "solarium" como prolongamento da fachada posterior do lado noroeste, deslocando-se a Ílhavo o Sr. Ministro do Interior. Em 1959 é feita a construção do bloco de radiologia no piso térreo do "solarium" e, em 1960 faz-se a construção do bloco cirúrgico António Francisco Corujo (o Ronca) como prolongamento da fachada posterior do lado nordeste.
   No pós 25 de Abril de 1974 o Hospital foi nacionalizado, passando o Estado a fazer a sua gestão, assumindo-se como principalprestador dos cuidados de saúde.
   Em 1990 deu-se o encerramento do Hospital, ficando apenas em funcionamento o Centro de Saúde e o Serviço de Atendimento Permanente que passados sete anos se mudaram para novas instalações.

   Em 2000 a capela, que se encontrava-se em avançado estado de degradação e transformada em armazém, foi intervencionada sendo feita obra de recuperação das coberturas, pintura de fachadas e no interior e beneficiação do pavimento interior.

   A Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo inaugurou as obras da renovada capela no dia 24 de Abril de 2010, aquando das comemorações do seu 91º aniversário, que contou com uma missa presidida por D. António Marcelino.

Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo:

   O Arquivo, que se encontrava no Hospital da Misericórdia de Ílhavo e ali se manteve após a passagem, em meados da década de 70 de 1900, da sua administração para o Estado, sofreu uma inundação que conduziu à sua destruição quase total.
   Desta forma o seu fundo é constituído por um reduzido número de documentação, na qual se destacam: Compromissos (1988), Actas da Assembleia-Geral (1930-1981), Actas da Mesa Administrativa (1960-1976), actas do asilo de Inválidos e Creche para Órfãos Menores (1936-1947), e Copiadores de Correspondência expedida do Hospital de Ílhavo (1938-1945).
   Possui ainda a cópia de uma brochura original relativa à Sociedade de Caridade de Ílhavo, que esteve na origem desta Santa Casa. 

Cortejo de oferendas para o Hospital da Misericórdia de Ílhavo, 21 de Dezembro de 1947

in Boletim da Assistência Social, Ed. do subsecretariado de Estado e Assistência Social, 1948, nº62, p. 102
Cortejo de oferenda para o Hospital de Ílhavo, 1947
 Beneméritos do Hospital de Ílhavo:
in Boletim da Assistência Social, Ed. da Direcção-Geral de Assistência Social, 1958, nº131, p. 246
in Boletim da Assistência Social, Ed. da Direcção-Geral de Assistência Social, 1960, nº139, p. 321

Hugo Cálão
in patrimonioreligiosodeilhavo.blogspot.com

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Autos de licença para a construção da Capela das Almas do Purgatório de Ílhavo no local onde está colocada uma medalha representativa das Almas do Purgatório - 8 de Julho de 1760

Diz o Juiz da Igreja por si e pelas mais pessoas e povo da freguesia de São Salvador de Ílhavo.

Pedido de construção da Capela das Almas de Ílhavo pelo prior João Martins dos Santos, 8 de Julho de 1760 (AUC ©)

Diligencia sobre a demarcação e assinalação do sitio para a capela das Almas do Rio da Vila de Ílhavo:

   Ano de nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo da era de mil setecentos e sessenta e um, aos treze de Janeiro nas casas da residência do reverendo João Martins dos Santos prior da Igreja de Ílhavo, lhe foi apresentado o documento mandado passar pelo Rev. Manuel Rodrigues Teixeira tesoureiro-mor da Santa Sé catedral da cidade de Coimbra e provisor do bispado em que elegeu por escrivão o Pe. António Borges de Almeida cura da mesma igreja em que ambos tomamos o juramento dos Santos evangelhos e mutuamente nos comprometemos fazer esta diligencia.

Termo de demarcação:
  Em trinta de Março de 1761 no rio da vila desta freguesia onde o reverendo comissário e escrivão e logo ali se mandou medir o sitio em que se quer edificar a dita capela para as Benditas Almas. Fica defronte do oratório em que está o painel das mesma Almas o qual tem de comprido quarenta varas de medir pano e de largo vinte varas e parte do norte com terra de Luís da Rocha Fradinho do lugar de Alqueidão, do sul com a calçada e caminho que vai para o lugar de Alqueidão sitio muito bastante para a dita capela, o qual demarcou e assinalou e mandou fazer este termo de demarcação.

 Auto de visita:
   Em cumprimento da Ordem junta fui pessoalmente à Capela das Almas de Ílhavo e achei a capela-mor perfeitamente acabada com seu altar de pedra forrado de madeira com seu frontal de damasco branco e encarnado e da mesma sorte o paramento, cálice de prata dourada e tudo mais necessário com perfeição. No meio do altar junto a parede tem seu trono ou tribuna muito bem pintada para nele se colocar a medalha ou painel das Almas. Tem um Cristo e as imagens de Nossa Senhora da Conceição e de São Vicente de Paulo. A sacristia já está acabada com seu lavatório de pedra muito bem lavrado e tudo se fecha com boas portas. Pelo que observei que está no termo de nela se poder celebrar o santo sacrifício da missa e como o mais corpo da Igreja se vai aperfeiçoando será justo que venha caminhar logo para acabada para sem embargo se benzer.
Ílhavo 12 de Abril de 1768

Hugo Cálão
Mestre em História e Património

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

História sobre Joana Gramata e a Festa da Maluca - "Ciúmes da Velha"


in Revista Universal Lisbonense,
dir. de Sebastião José Ribeiro de Sá, 1853,
p.263-264.
   A figura de Joana Gramata, mulher importante para o povoamento e implementação do culto religioso na Gafanha da Encarnação, já no ano de 1853 foi notícia na Imprensa Nacional:
   Publicamos essa mesma história para melhor conhecimento desta figura e sua ação nos areais da Gafanha, diga-se, digna de uma cena de filme ou de novela.
   Talvez esta seja a verdadeira razão do cognome de 'maluca' pelo qual ficou conhecida e a que deu nome à festa religiosa que se celebra anualmente no segundo fim-de-semana de Setembro - A Festa da Maluca?

"Ciúmes da Velha" - a ti Joana Gramata

— Era no recinto de uma capelinha que a tia Gramata edificara em louvor de Nossa Senhora da Encarnação.
   Um padre rubicundo e de má fama, mais propenso ás adorações de Bacho que ás rezas do Breviário, corria pelo sermão adiante todos os pecados mortais, fazendo sobre cada um deles ruidosas mais que evangélicas exortações. Chamavam-lhe por ali o padre Borracha, nome, que os fregueses lhe deram em comemoração de uma alentada borracha sua fiel companheira em todas as romarias. Quando subiu para o púlpito, já na sacristia se tinha prevenido contra as falhas da memória, com largas libações da supradita borracha, que lhe coraram o rosto de um rubro beterraba. Era sublime, de asqueroso e de ridículo.
     A tia Joana da Gramata, íncola primeira dos areais da Gafanha, presidia, junto do altar-mór, á festa da sua capela. A tia Joana é uma velha rebarbativa, alta, gorda, robusta apesar dos seus setenta e tantos anos, e casada pela terceira vez com um mocetão apessoado e bem parecido, que a preferira a muitas moças que o requestavam engodado com o lucro das muitas terras que a velha possuía. Dele não teve filhos; nem parece provável que haja de os ter, atenta a sua avançada idade: zela-o contudo pelo mesmo teor de ciúmes abrasados com que foi encampando para melhor vida os seus dois primeiros maridos. Agora estava ele de pé, ora com os olhos fixos no padre, quando se percebia que a tia Joana o espreitava, logo com eles acesos no incêndio de dois outros olhos vivos e espertos de uma bela rapariga, que como de propósito o estava incitando a perder as reflexões do sermão, e a perturbar a paz doméstica da pobre tia Joana.


Tricana em dia de festa, aguarela s/ papel
Alberto Sousa, 1935
    A moça estava vestida com um colete de veludo encarnado, bordado a fio de oiro, que lhe apertava a cintura estreita e delicada, e por baixo do qual saíam as mangas da camisa a abotoar no punho, alvas como o peito de uma falcoeira. Da cinta pendia uma saia de serguilha preta, apanhada em estreitas pregas, que lhe descia apenas até ao artelho, deixando ver uns pés mimosos e estatuários, apesar do costume que tem todas as mulheres destes sítios de andarem descalças. Dos ombros caía-lhe uma capa de pano azul escuro, com bandas de cetim azul, e cortada gentilmente á moda das antigas togas. Todo este vestuário se aproxima e assemelha ao das mulheres do campo italianas, de cuja origem, segundo a tradição de todos estes lugares, elas parecem proceder. Rosto formoso, alvos dentes, belas mãos, ainda que do sol crestadas e enegrecidas, faziam desta moça uma verdadeira perfeição.
    Mal o padre acabava o seu breve sermão, que nenhum dos dois ouvira, o mancebo fez-lhe um sinal impercetível para todos, menos para a tia Joana, e saíram da igreja. A moça foi-se direita ao seu palheiro, e tomando uma viola, voltou repentinamente pr'á eira, em cuja beira se assentou. Correu a mão pelas cordas e preludiou entre dentes uma canção melancólica, cujas trovas populares denunciavam o estado convulso e aflito de sua alma. O mancebo apenas ouvira os primeiros sons daquela agreste melodia, deixou seus amigos com quem fingia entreter-se, e voltou para a eira, sentando-se junto da formosa cantora. Todos fizeram roda. Ela não tinha igual em deitar trovas, ou dançar as danças destes sítios dentro em seis léguas em redor: ele era de todos os improvisadores o mais querido e afamado.
Até o zabumba e o pífaro da festa se calaram, eles que, desde a alvorada, nem para comer tinham descansado. A rapariga pôs os olhos no céu e arrasarem-se-lhe de lágrimas, ele levou a mão a um lenço de linho alvíssimo, e diante de todos lhas limpou com amor e sem afectação. Depois começou o desafio. Agora é que era ouvi-los. Primeiro vieram brinquedos infantis, em que ambos se entrelinham, ele apanhando nas bordas do mar as conchinhas e os seixos, para lhe trazer, ela indo ao pomar, e guardando-lhe os primeiros frutos de todas as estações. Depois os anos, e com eles as urgências, as tristezas, as grandes tribulações. Ia sozinha sem os pais a guardar de inverno a casa, em quanto ele acompanhava o pai para essas terras tão longe onde costumavam pescar. O Verão era o Paraíso. Com as primeiras flores, e as primeiras vozes do céu, chegava o seu amante, e as tristezas convertiam-se em alegrias; as tribulações em danças doidejantes pelas romarias. E todos os anos, era assim. A sorte, separando-os, parecia já preludiar o seu futuro destino.
Enfim o moço orçava já pelos dezoito anos, e ela pelos dezasseis; o amor cada dia brotava novos ardores. 
O pai dele, velho pescador, encanecido, e endurecido nas rijas lutas do mar, não sabia nem podia compreender, o que fosse um amor, nascido no berço de ambos, e que o hábito de se verem sempre juntos tinha feito robustecer e firmar. Quando lhe pareceu declarou ao filho que era preciso casar, e que já lhe tinha arranjado esposa. O moço inclinou a cabeça e pediu um ano de espera. Quem sabe se nesse momento lhe passou pela ideia o pensamento de que o pai já ia adiantado em anos, e talvez a morte o libertasse de obedecer ás suas ordens perentórias? Ela quando o soube, não pode conter-se, nem resignar-se; e o que o seu amante não foi capaz de fazer, fê-lo ela; deitou-se no areal aos pés do velho e pediu-lhe com lágrimas o filho para esposo. Mas ao pescador tinha-o ensurdecido o som das ondas, em que passara a maior parte da vida; e levantando com duro gesto a moça que lhe regava os pés com pranto, declarou-lhe formalmente que a sua decisão era irrevogável. Ela voltou para casa mais triste do que nunca, abatida com tão barbara resposta, e resolvida, custasse o que custasse, a guardar ao seu amante a fé que lhe tinha jurado.
Durante todo o ano do noivado, e moço continuou a vê-la, e quase já tinham perdido a lembrança de que se aproximava o dia da fatal catástrofe, quando o pai se declarou em certo domingo para se celebrar o casamento do moço pescador com a tia Joana da Gramata.
Ele obedeceu porque nestas terras não consta que nenhum filho fizesse nunca a menor observação á vontade imperativa dos pais. A tia Joana era rica, tinha muitas terras, e a sua amante era pobre de bens, e só rica de muita formosura. O dia do casamento passou-se triste: ninguém quisera assistir á ligação eterna de um mancebo na flor da idade com o cadáver ainda que pujante de uma velha de setenta anos. Quando ambos nas trovas chegaram a este ponto, ela cantou então umas cantigas travessas em memória do amor finado para o incitar a descobrir-lhe o estado atual de seu coração. Ele respondeu, como senão fora casado, e todos se espantaram de semelhante declaração no meio do arraial. Era caso novo e altamente escandaloso. É verdade que a tia Joana era velha, e para nada já prestava: mas a Gafanha tinha-a ela povoado, e contava uma parentela de perto de duzentas pessoas. O escândalo porém subiu de ponto quando a formosa improvisadora, dando um certo ar de maldade á sua trova, desferiu contra o pobre mancebo a seguinte cantiga:

- Se estás casado é porque quiseste,
Esta é a hora dos desenganos;
- Deixa-me: vai-te, preferiste aos dezassete os setenta anos.
   Mal acabava e já a tia Joana da Gramata, que tinha vindo sorrateira, pé ante pé por detrás dela, a arrastava pelos cabelos pela eira fora. A moça a este ataque imprevisto e incalculável, sobressaltou-se e desmaiou. Ele não teve forças para acudir á sua triste amante. A velha devorada de ciúmes levantava o punho robusto, e macerava sem alma as mimosas faces da improvisadora. Ninguém ousou arrancar-lha das mãos. Com uma fúria, de que ninguém a julgaria capaz naquela idade, ali a teria acabado, se lhe não valesse a chegada do padre Borracha, confessor da tia Joana, que exprobrando-lhe com ânsia aquele mau tratamento, salvou a rapariga de tão traidor ajuste de contas. Neste momento subiram aos ares muitos foguetes: era a procissão da Senhora da Encarnação que voltava para a sua capela. Esta diversão separou a gente que se tinha apinhado na eira, e as danças recomeçaram. Ninguém mais todavia tornou a ver nem a bela cantora, a quem a tia Joana ferira por tal modo o rosto melancólico, nem o pobre do mancebo, condenado a viver com semelhante fúria o resto dos anos, que lhe faltam para cem; que não morre de menos!

Hugo Cálão
Mestre em história e Património

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cronologia para a Paróquia da Gafanha da Encarnação


Demolida Igreja Matriz da Gafanha
da Encarnação -  década de 30 de 1900
   1848 - António dos Santos Pata e sua mulher Joana Rosa de Jesus (de alcunha de seu avô, Joana Gramata e alcunha popular, Joana Maluca, n.1788, f.1878: ver mais aqui!), moradores no lugar do Prado na zona da Gafanha, fizeram construir na sua quinta, denominada Quinta do Mato Feijão, uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora da Encarnação, capela de reduzida dimensão, não mais do que cinco metros de comprimento, albergando em destaque no único altar a pequena imagem de Nossa Senhora da Encarnação, imagem de roca com 47 cm de altura e provida de alfaias de culto e de algumas imagens ainda hoje existentes, uma imagem de São Tomé, em barro policromado da autoria do barrista aveirense Pedro Serrano e uma imagem do Sagrado Coração de Maria.

   1862 - o seu primeiro capelão, Pe. José António Morgado, adquiriu um cálice de prata no Porto pela quantia de 20$340 réis;

   1877 - obras de ampliação da capela até à dimensão de 12 metros com construção de torre onde são colocados dois sinos, e ainda dois altares colaterais, um com a imagem do Sagrado Coração de Maria e outro com a imagem de Nossa Senhora da Piedade, em pedra que mais tarde passaria para o nicho exterior da fachada da Igreja;


Actual Igreja Paroquial da Gafanha da Encarnação
(ver mais em: monumentos IRHU)

   1884, 27 Abril - por falecimento do seu proprietário e fundador, António dos Santos Pata, a capela foi nesta data posta em arrematação no tribunal de Aveiro, tendo Manuel Luís Ferreira, por procuração de todo o povo do lugar, procedido à sua compra, passando desta forma a capela a ser propriedade paroquial;

   1901, 2 Setembro - o seu segundo capelão, o Pe. Augusto Cândido Figueira funda neste lugar a Irmandade de Nossa Senhora da Encarnação e Almas com estatutos aprovados pelo Governo Civil nesta data e por D. Manuel Correia de Bastos Pina, bispo em 13 de Novembro do mesmo ano;

   1907, 25 Julho - é demolida a capela, dando-se inicio à construção de um templo de grande dimensão no mesmo local mas com nova orientação Poente-Nascente, ficando a obra sobre direcção do mestre Manuel Bolais Mónica pelo custo de 3.050$000 réis com a dimensão de 26 metros de comprido por 8 metros de fachada;


São Tomé, c. 1850
Igreja Matriz da Gafanha da Encarnação
Pedro Serrano, barrista aveirense
barro policromado
   1908 - estavam levantadas as paredes até à altura do arco cruzeiro, sendo registada esta data incisa na pedra de fecho do arco cruzeiro;

   1909 - conclusão da obra de edificação;  o Pe. João Francisco Quaresma (n.1873, f.1957), ao iniciar a capelania na nova igreja da Gafanha da Encarnação, funda neste lugar o Centro do Apostolado da Oração;

  1911 - adquiriu-se ao Convento de Jesus de Aveiro a custódia, e uma píxide de prata, um véu de ombros e outras alfaias de culto assim como as imagens de Nossa Senhora de Lurdes e do Sagrado Coração de Jesus;

   1912 - após secularização do Convento feminino das Carmelitas de São João Evangelista de Aveiro conseguiu-se por cedência dois retábulos de talha dourada deste convento, que foram adaptados na nave da igreja a altares colaterais do Sagrado Coração de Jesus e de Nossa Senhora da Encarnação;

   1923 - adquiriu-se a tribuna e retábulo-mor em talha dourada da antiga Sé de Aveiro, que funcionou no Recolhimento de Franciscanas de São Bernardino, e que após feitas adaptações, foi instalado na capela-mor da igreja;


Vista interior da demolida Igreja Paroquial da Gafanha da Encarnação, c. 1980

   1926 - foram construídos por artistas do lugar os dois altares laterais da nave, o de Nossa Senhora de Lurdes e o das Almas.
  1926, 1 Novembro - a Freguesia da Gafanha da Encarnação foi criada pelo decreto nº12:612 desta data, publicado no Diário do Governo, 1ª série, de 8 de Novembro de 1926;

   1928, 3 Maio - fundação da Paróquia da Gafanha da Encarnação, passando a igreja a ser Igreja Paroquial, desmembrada da Paróquia de São Salvador de Ílhavo, por provisão do dia 4 do mesmo mês e ano;


Provisão da criação da Paróquia de Nossa Senhora da Encarnação 3-05-1928
http://patrimonioreligiosodeilhavo.blogspot.com/2011/09/historia-da-joana-gramata.html

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Estudos de paramentaria: Pala de cálice, Igreja de Ílhavo, séc. 18

Paróquia de São Salvador de Ílhavo, Igreja matriz de Ílhavo
seda bordada a fio policromo e fio laminado de prata dourada
 © Hugo Cálão

sábado, 9 de julho de 2011

Figuras de Ílhavo - Conselheiro José Ferreira da Cunha e Sousa

Cons. José Ferreira da Cunha e Sousa
   O Conselheiro José Ferreira da Cunha e Sousa nasceu em Ílhavo, na antiga Casa do teatro, à rua Serpa Pinto, em 5 de Abril de 1813, sendo os seus pais Manuel Ferreira da Cunha, de Aveiro, Juiz de Órfãos, e Rita Pinheiro de Queiroz, do Porto.
   Fez os primeiros estudos em Ílhavo indo depois para Aveiro para a companhia de seu avô paterno, o Capitão-Mor Alexandre Ferreira da Cunha e Sousa. Ali completou os estudos liceais para ir frequentar a Universidade onde contava matricular-se no 1º ano de Leis em Outubro de 1829.
   Os sucessos políticos de 1828 e as ideias liberais que seu pai professava fizeram com que este fosse preso e passasse todo o tempo do reinado de D. Miguel nas cadeias, onde adquiriu o mal que o vitimou depois e despendeu tudo quanto possuía. E se não chegou a ver a sua família mendigar deve-o a este filho que trabalhava noite e dia leccionando instrução primária e escrevendo em diferentes cartórios, para sustentar os seus.
   Durante este período na sua terra natal, foi um dos fundadores em princípios de 1836 da Banda Filarmónica Gafanhense (ex. Música Velha de Ílhavo), juntamente com o conselheiro Dr. António José da Rocha (magistrado). Estes dois indivíduos, apaixonados amadores dramáticos, tinham organizado em Ílhavo uma companhia de curiosos que, devia estrear-se num teatro por aqueles construído numa dependência do passal da freguesia, junto à Igreja Matriz de Ílhavo.
Cons. José Ferreira da Cunha e Sousa
   Para o primeiro espectáculo haviam falado à orquestra da Fábrica da Vista Alegre, mas à última hora esta faltou, por imposição do director daquela fábrica, que era de política contrária à dos organizadores da companhia. Estes, magoados com o procedimento havido com eles, levaram-se em brio e fundaram uma Música, aqui chamando para esse serviço José Vicente Soares, ex.- regente de Bandas Militares e que fora também o primeiro regente da Banda da Vista Alegre.
Depois deste, teve vários regentes, sendo o que mais aturou no lugar, o ilhavense Francisco dos Santos Barreto, (homem de muitas aptidões). Por morte deste, a Sociedade decaiu muito, quase se extinguindo, até que, cerca de 1885, um grupo de ilhavenses supervisionado por João da Conceição Barreto, mais tarde funcionário do Ministério do Interior, reorganizou-a baptizando-a com o nome de Sociedade Filarmónica Ilhavense. Adoptando o nome de Música Velha, a banda, nesta altura, entrou numa fase de grande brilho, competindo com as mais afamadas bandas do distrito
   Com o triunfo da liberdade de seu pai, veio para José F. da Cunha e Sousa a tranquilidade.
   Continuou a trabalhar, exercendo então diferentes cargos públicos, o que lhe granjeou nome pela elevada competência a assiduidade com que os desempenhou.
   Em 11 de Abril de 1840 é nomeado 1º Oficial do Governo Civil do Distrito de Aveiro, em que bem depressa justificou a reputação de empregado habilissimo e muito trabalhador, de que vinha precedido. Militando no partido cartista, contava amigos dedicados também no campo contrário, o setembrista. No dia em que rebentou a chamada revolução da Maria da Fonte, 14 de Maio de 1846, José F. Cunha e Sousa, que estava exercendo as funções de secretário geral, recebeu, das 8 para as 9 da manhã, aviso de pessoa amiga, prevenindo-o de que pelo meio dia se efectuaria a revolução e que seriam presas as autoridades superiores do distrito. Deu pois pressa em comunicar tudo ao governador civil António José Vieira Santa Rita, que, não se mostrando surpreendido com a nova, pois havia recebido idêntico aviso, lhe disse:
   - Se quer, fuja; eu fico no meu posto, aguardado os acontecimentos.
   - Pois eu faço o mesmo - respondeu J. Cunha e Sousa - não abandono em caso algum a secretaria de V. exª.   Horas depois triunfava a revolução e os dois funcionários eram presos, sendo no dia seguinte conduzidos para Coimbra debaixo de prisão, onde lhe deram a cidade por homenagem.
   Após a revolução da Maria da Fonte, foi preso para Coimbra e demitido do seu cargo, sendo reintegrado em 10 de Janeiro de 1847. Por decreto de  3 de Novembro de 1858 foi promovido a secretário-geral que exerceu com a mais elevada competência.
   Em 4 de Junho de 1868 foi nomeado Governador Civil de Viseu, sendo transferido em 31 de Agosto do mesmo ano para Leiria. em 25 de Janeiro de 1869 passou a exercer o mesmo cargo em Coimbra, sendo transferido novamente para Viseu em 9 de Junho de 1870. Em 5 de Novembro de 1870 mais uma vez foi para Leiria, indo em 12 de Setembro de 1871 para Santarém, onde foi o promotor da constituição da primeira Constituição Administrativa para a instalação de um Museu Distrital de Santarém, e em 4 de Dezembro de 1877 para Portalegre. Finalmente em 1878 seguiu para o Distrito de Faro, onde se conservou apenas 3 meses, regressando a Aveiro com licença, sendo aposentado em 17 de Janeiro de 1879.
   Depois de aposentado ainda exerceu em Aveiro os cargos de Governador Civil Substituto, 1º Substituto do Juiz de Direito, Provedor da Misericórdia, Presidente da direcção da Caixa-económica, da Sociedade construtora do Teatro Aveirense, Presidente da comissão do Monumento ao Conselheiro Manuel Firmino.
   O Conselheiro Ferreira da Cunha e Sousa, não obstante os elevados cargos que desempenhou e forçado afastamento da sua terra, votou-lhe sempre verdadeiro afecto, de que é prova o valioso manuscrito que deixou sobre a história de Ílhavo e Aveiro, terminando a redacção da sua «Memória de Aveiro, no século XIX» em Novembro de 1908, interessante e por vezes minucioso documento sobre a cidade e os seus monumentos e instituições, manuscrito este publicado em 1940, no volume VI do «Arquivo do Distrito de Aveiro» (Arquivo, VI, p. 83)
   Devido aos relevantes serviços prestados, foi galardoado com o Hábito de Cristo em 14 de Junho de 1845 e a Comenda da mesma Ordem em 14 de Janeiro de 1867 e a Carta do Conselho em 7 de Setembro de 1871.
   Faleceu com a idade de 100 anos menos 4 meses no dia 19 de Novembro de 1912, já sem vista mas com perfeita lucidez de espírito, acalentado pelo afecto dos seus dois filhos D. Maria das Mercêdes e Alexandre Ferreira da Cunha.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Forte da Barra de Aveiro, Gafanha da Nazaré, Ílhavo - postais








Farol da Barra de Ílhavo - postais































Farol da Barra de Aveiro, Ílhavo


O farol da Barra, em Ílhavo é o maior farol de Portugal. Fica localizado na praia da Barra, cidade da Gafanha da Nazaré, concelho de Ílhavo, distrito de Aveiro. Foi, à data da sua construção, o sexto maior do mundo em alvenaria de pedra, continuando a ser atualmente o segundo maior da Península Ibérica, estando incluído nos 26 maiores do mundo. É uma torre troncocónica com faixas brancas e vermelhas e edifícios anexos.

Os repetidos sinistros marítimos ocorridos nas proximidades da foz do Vouga fizeram que se pensasse na imperiosa necessidade de iluminar a costa. Em 1841, quando a sua construção foi inicialmente proposta, a ideia era usar para combustível "as pinhas dos pinheiros os mais vulgares em que o reino todo abunda, extremamente resinosas e inflamáveis, de pouco custo, e que no distrito de Aveiro não valem mais de 50 réis o cento" movimentando o mecanismo circular de lanterna. Assim, por portaria de 8 de Janeiro de 1856 se determinou que o Diretor de Obras Públicas do distrito de Aveiro, de acordo com o capitão do porto e com o Diretor Maquinista de Faróis escolhessem, perto da barra, local apropriado para o farol, cujo projeto e orçamento deviam ser elaborados pelo Diretor de Obras Públicas. Em Julho de 1858 é rejeitada a ideia de aproveitar a torre se sinais do forte da Barra para a construção do farol, pensando-se como adequado um ponto situado a 200 metros da referida torre, quase no fim do paredão da barra. Até 1866 nada mais se fez, altura em que o inspetor de faróis, Francisco Maria Pereira da Silva, defendia, no seu plano de farolagem, a criação d um farol em Aveiro:
"na barra de Aveiro é de urgente necessidade um pharol de grande alcance e da maior intensidade de luz, não só para esclarecer a extensa e baixa praia, que divide ao meio, com 60 milhas de litoral em que as primeiras elevações se apresentam a grande distância do mar (seis a oito léguas), iludindo assim o navegador que julga pelo aspecto desta porção de costa, achar-se ainda mais afastado da terra; mas também para poder atravessar uma atmosphera que se conserva sobre esta planície cheia de densos vapores, emanados tanto das areias humedecidas, como das marinhas de sal e das águas que ali abundam na distância de muitas milhas; convém que seja esta barra de Aveiro a posição escolhida para um pharol de 1ª ordem e que seja sustentado por um elevado e bem distincto edifício, para prevenir de dia os navegadores da sua aproximação. Este pharol ali colocado também dispensa outro, que era necessário estabelecer para indicar a entrada da barra daquele porto".

Com projecto da autoria do engenheiro Paulo Benjamim Cabral, datado de 1879, a obra foi iniciada, primeiramente dirigida pelo engenheiro Silvério Pereira da Silva e, mais tarde, pelo engenheiro José Maria de Mello e Matos. As obras arrancaram em 1885 e o farol entrou em funcionamento em 31 de Agosto de 1893, tendo uma torre de 62 metros de altura e 66 metros de altitude. Foi equipado com um aparelho óptico de 1ª ordem (920 mm distância focal), com 4 painéis e com incandescência pelo vapor de petróleo com fonte luminosa. A fonte luminosa de reserva era um candeeiro de nível constante e a rotação óptica era produzida pela máquina de relojoaria. Neste mesmo ano entrou também em funcionamento um sinal sonoro, constituído por uma trompa Holmes, funcionando a ar comprimido e instalada no molhe. Em 1898 o sinal sonoro foi transferido para um alojamento construído em frente ao farol, procedendo-se à sua cobertura em 1902, protegendo assim o equipamento das chuvas. 
Em 1908 a máquina do sinal sonoro foi substituída por duas máquinas a vapor verticais, ficando assim uma máquina de reserva.
Em 1928 o aparecimento de uma fenda vertical na porção superior da torre levou ao seu reforço por meio de 14 anéis de cimento armado; na mesma altura, isolou-se a torre do restante edifício à custa de tijolos, visto recear-se que fossem oscilações a causa da ruptura verificada.
Foi construido em 1932 um esporão para defesa das infraestruturas do farol. O alojamento de sinal sonoro foi derrubado pelo mar em 1935, sedo instalado o sinal sonoro em cima do edifício do farol. No ano de 1936 o farol foi electrificado através da montagem de grupos electrogéneos. 
Foi instalado um rádio farol em 1946 com montagem de 2 emissores Marconi, modelo WB7, na frequência de 291,9 Kc/s, 20W de potência e alcance de 50 milhas.
Em 1947 o aparelho óptico foi substituido por outro de 3ª ordem, pequeno modelo (375 mm distância focal), dotado de paíneis aeromarítimos. A fonte luminosa passou a ser uma lâmpada de filamento trifásico, ficando como reserva a incandescência pelo vapor do petróleo.
Em 1950 passou a estar ligado à rede pública de distribuição de energia, sendo instalada uma lâmpada de 3000W. Para acesso à torre foi montado um elevador em 1958.
A potência da fonte luminosa foi reduzida em 1983, instalando-se uma lâmpada de 1000W.
O farol de Aveiro esteve representado em 1987 numa emissão filatélica e na exposição Faróis de Portugal inaugurada na Torre de Belém. Foi mandada cunhar uma moeda na ocasião, pela Direcção de Faróis. No Boletim de Dezembro de 1987 da associação Internacional de sinalização Marítima, teve honras de capa.
Em 1990 foi automatizado. Foram extintos os rádios faróis em 2001 por deixarem de ter interesse para a navegação. Foi feita a limpeza da cuba e flutuador e filtragem do mercúrio em 15 de novembro de 2008.







quinta-feira, 30 de junho de 2011

Datas de fundação de Centros do Apostolado da Oração em Ílhavo e na Diocese de Aveiro

Estandarte do Apostolado da Oração
da Paróquia de São Salvador de Ílhavo
(frente e reverso)
O Apostolado da Oração (A.O.), fundado em Ílhavo em 1882 é "uma associação de fiéis que, pelo oferecimento diário de si mesmos, se unem ao sacrifício eucarístico, em que se realiza perenemente a obra da nossa redenção, e assim, pela união vital com Cristo, da qual depende a fecundidade do apostolado, colaboram na salvação do mundo" (Estatutos, 5).

Como disseram os Bispos de Portugal, "a intuição fundamental da criação deste movimento eclesial é simples, mas de grande alcance espiritual e apostólico: todas as actividades e experiências do dia a dia, unidas a Cristo, têm valor redentor. Tudo o que o cristão vive e faz é, se pode tornar oração apostólica" (Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, 1994.02.04.

Nasceu a 3 de Dezembro de 1844 em Vals, França, no dia da festa do grande missionário S. Francisco Xavier, numa casa de formação de jovens para o Sacerdócio, por obra do P. Francisco Xavier Gautrelet.

A Portugal chegou no ano de 1864, tendo-se expandido rapidamente, tornando-se meio de evangelização popular, sendo particularmente notável a firmeza dos seus membros em tempos adversos à Igreja e à fé católica. Por isso, afirmou o Papa Pio XII: "Os anais do Apostolado da Oração são uma das mais belas páginas da História de Igreja em Portugal" (1957.05.19).
 Actualmente, há no mundo cerca de 40 milhões de inscritos no A.O. e mais de cem milhões que praticam o oferecimento das obras do dia.

Datas de Fundação dos Centros de Apostolado da Oração na Diocese de Aveiro


Livro de receita e despesa do
Apostolado da Oração Ílhavo, 1918


Águeda
Agadão 27-11-1898
Aguada de Baixo 20-02 1931
Aguada de Cima 25-07-1917
Águeda, Santa Eulália 1924
Belazaima do Chão 02-02-1940
Barrô 10-07-1928
Castanheira do Vouga
Espinhel 28-04-1925
Lamas do Vouga 1892
Macieira de Alcoba
Macinhata do Vouga 03-01-1898
Óis da Ribeira
Préstimo 11-02-1945
Recardães 29-01-1930
Segadães 23-03-1916
Travassô, São Miguel 17-04-1926
Trofa do Vouga
Valongo do Vouga 1933

Albergaria-a-Velha
Albergaria-a-Velha 16-05-1926
Alquerubim 25-09-1880
Angeja 18-03-1925; Rest. 05-12-1936
Branca 31-07-1977
Frossos 20-05-1921
Ribeira de Fráguas 1879
Vale Maior 1925; Rest. 01-01-1934

Anadia
Anadia, Senhora do Rosário 20-061941 Rest
Ancas 1882
Arcos 16-11-1923
Avelãs de Caminho  25-12-1944
Avelãs de Cima 08-06-1944
Mogofores 07-07-1930
Moita 24-01-1923
Óis do Bairro
São Lourenço do Bairro 1880
Tamengos 05-12-1932
Vila Nova de Monsarros
Vilarinho do Bairro

Aveiro
Aradas 06-09-1917
Cacia 24-01-1923
Eirol 10-11-28
Eixo 1904
Esgueira 20-12-1928
Fátima, Mamodeiro e Póvoa Valado
Glória, Sé, Aveiro 1877
Oliveirinha 1879; Rest 03-05-1925
Requeixo 20-11-1928
Santa Joana
S. Bernardo
S. Jacinto
Vera Cruz

Estarreja
Avança 1878
Beduído, Estarreja 12-03-1905
Canelas 11-08-1879
Fermelã 26-08-1885
Pardilhó 26-12-1884
Salreu 1881
Veiros 22-07-1880

Ílhavo
Gafanha do Carmo
Gafanha da Encarnação 1916
Gafanha da Nazaré 22-10-1904
Ílhavo 1882
Vale Íhavo de Baixo 22-07-1917

Murtosa
Bunheiro 18-05-1904
Monte 12-04-1932
Murtosa 27-03-1978
Pardelhas 02-02-1940
Torreira

Oliveira do Bairro
Amoreira da Gândara
Bustos
Fermentelos 1879
Mamarrosa 25-03-1914
Nariz 20-05-1935  
Oiã 1879
Oliveira do Bairro 01-05-1927
Palhaça 1879
Sangalhos 14-01-1929
Toviscal 28-05-1929

Sever do Vouga
Cedrim 1947
Couto de Esteves
Paradela do Vouga 10-11-1930
Pessegueiro do Vouga 02-10-1885
Rocas do Vouga 25-10-1932
Sever do Vouga 16-11-1906
Silva Escura 29-06-1921
Talhadas 11-11-1894

Vagos
Calvão
Corgo do Seixo 09-08-1885
Covão do Lobo 25-03-1884
Fonte-Ageão 28-10-1945
Gafanha da Boa-Hora 01-12-1941
Ouça
Parada de Cima 22-03-1916
Ponte de Vagos
Santo André 10-11-1915
Santo António 01-12-1941
Soza 1884
Vagos 25-07-1917

Alguns livros (para mais informações, peça um catálogo da Editorial A. 0.):
- Manual do Apostolado da Oração, livro com tudo o que deve saber sobre o AO., numa linguagem prática e acessível, contendo também um devocionário.
- Programa de vida do Apostolado da Oração, livro com os Estatutos do AO. e comentários aos pontos fundamentais da sua espiritualidade e organização.
- Caminho de fogo reflexões sobre os pontos mais importantes da espiritualidade do AO.(Paulo Guerra).
- Viver em oferecimento, Espiritualidade do Oferecimento das obras do dia (António Coelho)
- Carta e Estatutos do Apostolado da Oração (Santa Sé e director geral do AO.).
- O Coração de Deus, 30 celebrações para o mês de Junho (Dário Pedroso).
- Eis o Coração, orações ao Coração de Jesus Cristo (Dário Pedroso).

+ informações em http://www.apostoladodaoracao.pt/
Secretariado Nacional do A.O.
Largo das Teresinhas, 5 * 4714-504 BRAGA 
Tel.: 253 20 1220; Fax: 253 20 12 20