Capela da Ermida

Capela de Nossa Senhora do Rosário / Capela da Ermida


Descrição:
A capela, de planta rectangular, é composta por nave, capela mor, mais baixa e estreita e torre sineira adossada à esquerda. Coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na nave e capela-mor e em coruchéu piramidal sobre a torre sineira. Fachadas rebocadas e pintadas de branco com remates em empenas e beiral. Fachada principal de dois corpos correspondentes à nave e torre sineira. Corpo da nave aberta por portal principal de moldura em arco, ladeada por dois janelões e encimado por outro, todos de igual perfil; remate em empena recortada com cruz no vértice. 
Fachada lateral esquerda com torre sineira de três registos, o primeiro aberto por porta de moldura em arco de volta perfeita, o segundo cego e o terceiro dividido por cornija e mais estreito, é aberto por quatro sineiras de volta perfeita com remate em cornija saliente; o corpo da nave é rasgado por duas janelas de moldura rectangular. Fachada lateral direita aberta por porta travessa de moldura rectangular com cornija e duas altas frestas rectangulares, molduradas com um arco abatido adossado que faz a passagem para a zona residencial (Paço da Ermida). Interior com corredor longitudinal na lateral esquerda com escada de acesso à torre-sineira, de ligação directa à capela-mor. Nave com coro-alto junto à entrada e nichos simétricos nas paredes colaterais do arco-cruzeiro. Capela-mor com camarim superior na lateral direita.

Cronologia:

1088-01-11 D. Sisnando Davides, alvazil de Coimbra, doa ao presbítero Rodrigo Hourigues o lugar de São Cristóvão, onde se crê ser a primitiva Ermida de São Cristóvão e actual Capela de Sáo Tiago sita no Couto da Ermida em Ílhavo, doação que o conde Raimundo posteriormente confirmará. (Diplomata et Chartae, Academia das Ciências Lisboa, 1867, vol. 1, , DCLXXXXVIII)

1514-06-08 D. Manoel deu foral ao Couto da ermida, couto do padroado da Mitra de Coimbra.

São Tiago da Ermida, Ílhavo
 escultura pedra calcária policromada
século XV
1721-05-30  Descrita nas informações paroquiais dadas pelo prior de São Salvador de Ílhavo José Monteiro de Bastos da seguinte forma: "é também do povo a ermida de São Tiago sita no Couto da Ermida e tem a imagem do dito santo e Confraria com mordomos, que se fabrica e sustenta na forma das demais. E dizem-se nesta Capela quarenta e oito missas pela alma de João Roiz, para o que deixou bens, como também para o qual se diz missa cantada a São Francisco na capela do Senhor Jesus, de que administrador António Fernandes Facão do Couto da Ermida." (AUC, Memórias Paroquiais de 1721, Ílhavo);

1758-00-00 Descrita nas informações paroquiais dadas pelo prior de São Salvador de Ílhavo João Martins dos Santos da seguinte forma: " Vila e Couto da Ermida: pela parte do sul, contigua à quinta da Vista Alegre principia a Vila e Couto da Ermida, que pertence à freguesia de Ílhavo, e por si só o pudera ser, e seria não inferior a muitas outras. Reparte-se ela como em dois bairros, que divide um ameno e espaçoso vale ou várzea, de boas e férteis fazendas, que chamam vessadas ou ribeiros, cortados, e quando convém, regados de duas levadas e algumas vertentes de água. O primeiro bairro fica da parte de áquem, indo de Ílhavo, com cujo termo pela parte do norte confronta e confina. Consta de uma dilatada e comprida rua (se tal merece chamar-se, onde apenas mais que um só lado tem casas) que principia no sitio chamado Soalhal, discorrendo até ao sítio onde chamam Ribas-altas e ali finaliza, confrontando com o lugar de Vale de Ílhavo de baixo, termo de Ílhavo. De muitos sitios dela se descobrem  os edificios mais altos da Vila de Aveiro e muita parte do rio ao longe, por ficar desabafada. Passando para a parte de além consta este bairro de três ruas principais, a da Corredoura, estrada corrente para Vagos, a dos Aidos e a chamada vulgarmente de Lugar, onde está a casa da càmara e se fazem audiencias. Antes de lá chegar fica a Capela de São Tiago que é do povo, e perto dela as nobres casas do Senhorio do Prazo, chamadas Paço da Ermida, com seu pomar murado de árvores de espinho e outras. É esta Vila Couto de Arganil, e dela são senhores donatários da Coroa os Exmos. e Revmos. Bispos Condes, senhores directos do seu rendozo Prazo. Deste é ao presente senhorio útil o doutor Zeferino Rodrigues Condelo, cavaleiro da Ordem de Cristo e familiar do santo Ofício, juiz das Reais Coutadas de Benevente e Coruche e fidalgo da Casa de Sua Magestade por casas no Paço com uma senhora filha do desembargador Conselheiro da Fazenda, Pedro de Mariz Sarmento, das principais famílias transmontanas. O qual Zeferino Rodrigues é natural de Ílhavo, cujo pai António Rodrigues Condelo, natural desta freguesia sendo filho de pais pobres, e saindo dela, como eles, foi artifice da própria fortuna, formando opulenta casa de negócio na Vila de Coruche. Além de outras fazendas de não inferior lote, subministrou ao dito seu filho dinheiros para em seu nome comprar o nobre e rendozo Prazo da Ermida a Jerónimo António de Castilho por trinta e cinco mil cruzdos de principal; o qual Jerónimo António de Castilho por sua má conduta se viu precisado a vende-lo. Rende uns anos por outros três mil cruzados, um conto de reis en foros, rações e laudémios que pagam os subenfiteutas e rendas das boas azenhas que tem. Há nesta Vila Juiz ordinário que é juntamente dos órfãos, dois vereadores, um Procurador do Concelho feitos por eleição na forma da Ordenação, e confirmados pelo Ouvidor de Arganil, o qual de tempo imemorial ali faz correição sem que haja memória que naquele Couto entrasse Corregedor ou outro qualquer Ministro a faze-la. Há um só escrivão do judicial, da Càmara, Almoçataria e Órfãos.

Há nesta Vila uma Capela pública onde o povo ouve missa  e tem capelão apresentado pelo pároco, a quem o mesmo povo paga. Foi antigamente da invocação de São Cristóvão, e com este nome anda nas doações dos Senhores Bispos Condes, chamando-se Prazo de São Cristóvão. Mas esta invocação mudou (ignora-se o ano ou a causa) para a de São Tiago, cuja imagem tem no meio do altar mor, em competente nicho de talha dourada, e dos lados, da parte do Evangelho uma imagem de Nossa Senhora do Rosário e da parte da Epístola uma imagem de São José, modernamente ali colocadas. Abaixo da peanha de São Tiago está um quadro e estampa de São Vicente de Paulo, que ali fez colocar a devoção do Reverendo doutor António Borges de Almeida, grato ao beneficio da saude, que por sua intersseção alcançou, em uma perigosa e dilatada doença. Além da missa do povo nos Domingos e dias santos do ano hé outra quotidiana que deixou o defunto António Rodrigues Condelo pai do actual senhorio do Prazo.Há também missanos Domingos e dias santos que deixou o Padre Manuel Anré da Rocha e sua irmã Bárbara da Rocha, doando com esse encargo os seus muitos bens a seu sobrinho João de Sousa Ribeiro da Silveira com vínculo de Capela ou Morgado. e ainda quarenta missas anuais chamadas da Capela de João Rodrigues.  (ANTT,MPRQ/18/161, Memória paroquial de Ílhavo, Esgueira, vol. 18, nº (J) 17, p. 105 a 146.)

1855-00-00 - Como se comprova por registos fotográficos a capela tinha a torre sineira integrada no corpo da nave, sem marcação exterior, além do segundo registo construido nesta data.
Sino furtado da Capela de Nossa Senhora do Rosário
da Ermida de Ílhavo em Janeiro de 2007
1867-07-25 A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da Ermida, erecta na Capela de São Tiago da Ermida foi instalada nesta data, tendo como primitivos os estatutos assinados a 21 de Setembro do mesmo ano. (Arquivo Paroquial de Ílhavo)
1901 - É demolida a primitiva Capela, situada no lugar onde hoje se encontra o fontanário e lavadouro, para alargamento da estrada, oferecendo Sarah Brandeling Pinto Basto o terreno contíguo ao palácio para construção da atual Capela.

1912-10-28 Foram reformulados os estatutos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da Ermidaem sessão desta data, presidindo o Juiz José António Rodrigues Junior , o tesoureiro João Alves Russo, o secretário António Egídio e os vogais Manuel Ferreira da Conceição e João Martins Silvestre. (Arquivo Paroquial de Ílhavo)

1917-00-00 Aquisição da nova imagem de Nossa Senhora do Rosário para a Capela da Ermida pelo Pe. José Nunes Pinguelo e Irmandade da Senhora do Rosário da Ermida, com ajuda da Casa do Paço da Ermida.
1944-06-10 aprovação de novos estatutos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da Ermida. (Arquivo Paroquial de Ílhavo)

1956-00-00 Data inscrita no sino da torre da Capela da Ermida, da fundição de sinos de Fermentelos, mandado fundir pela Comissão da Capela presidida por Manuel Baptista Madail e auxiliada pelo povo, furtado em Janeiro de 2007.

1968-09-00 São iniciados os trabalhos de restauro da Capela 


Procissão de Nossa Senhora do Rosário da Ermida
de Ílhavo, andor, c.1950
Genealogia (Paço da Ermida, proprietários):

A Casa do Paço da Ermida é uma casa apalaçada, com grandes jardins e várias dependências que faz parte do roteiro das casas de turismo de habitação.
Rui de Moura Manuel foi instituidor desta Quinta dita do Prazo da Ermida. Casou em 1646 com Antónia Ferreira. Foi irmão de D. Manuel de Moura Manuel, bispo de Miranda, Inquisidor e Reitor da Universidade de Coimbra que segundo consta passava largas temporadas no Paço da Ermida. D. Manuel de Moura Manuel mandou construir, apartir de 1693 a Capela da Vista Alegre em honra de Nossa Senhora da Penha de França, hoje monumento nacional. 

Rui de Moura Manuel, filho de Lopo Alvares de Moura e de Maria de Castro Manuel, era descendente de Lopo Dias de Sousa (n.1359-1417), filho de
D. Álvaro Dias de Sousa, senhor de Mafra e Ericeira (f. 1365) e de D. Maria Telles de Menezes. Foi o sétimo e último grão-mestre da Ordem de Christo, nomeado aos 13 anos de idade por sua tia a rainha D. Leonor Telles. Foi sob o mestrado de D. Lopo que os Cavaleiros de Cristo se juntaram aos Hospitalários, de D. Nuno Álvares Pereira, e à milícia do Mestre de Avis para defenderem a soberania portuguesa face às pretensões do rei de Castela. Feito prisioneiro durante o assalto a Torres Novas, vila então ocupada pelos castelhanos, e libertado após Aljubarrota, foi considerado herói da guerra do Interregno. Depois das vitórias que colocaram D. João I, Mestre de Avis, no trono de Portugal, tornou-se amigo íntimo da sua Casa Real, em particular, do Infante D. Henrique, o qual contou com o seu apoio para as conquistas do norte de África. À sua morte o rei obteve do Papa a nomeação do Infante para Regedor e Governador da Ordem, isto é, mestre laico. Por ordem do Infante o corpo de D. Lopo foi trasladado e o seu túmulo encontra-se actualmente do lado norte, junto ao corredor que liga a igreja com o claustro do Cemitério do Covento de Cristo de Tomar.
Teve uma primeira relação com Catarina Teles, da qual nasceram duas filhas, casando com Leonor Ribeiro tendo oito filhos. D. Branca de Sousa (n. 1409), sua nona filha foi criada de D. João I e donzela da rainha, casando em data anterior a 1434 com João Falcão, cavaleiro da Casa do infante D. Pedro e morador em Évora, senhor de juro e herdade de Castelo-de-Vide, de Monforte e de Póvoas-e-Meadas, senhor das rendas de Elvas, senhor de Fataúnços, alcaide-mor de Mourão e capitão em Tanger. Deste casamento nasceu D. Leonor de Souza, que casou com Álvaro de Moura, fidalgo da Casa de D. Afonso V, avós paternos de Rui de Moura Manuel.

Por morte de Rui de Moura Manoel, passou a quinta da Ermida para seu filho Rodrigo de Moura Manoel, que tendo casado com D. Rosalia da Silva, filha de Luiz Lobo da Silva, governador e capitão general de Angola morreu sem successão, pelo que os seus bens passaram para suas irmãs. A Ermida pertenceu a D. Maria Maximilianna, casada com Jeronimo de Castilho.
Jerónimo António de Castilho, n.1698-05-30, filho de Pedro de Castilho, 3º senhor do Morgado dos Castilhos e de Maria Maximiliana de Castro, casado em 08.12.1722 com Joaquina Isabel Freire de Castro, n. 03.10.1706-10-03. Tiveram três filhos: Pedro Miguel António de Castilho Correia Freire, n. 1723-10-08, Cristovão António de Castilho Correia Freire, n. 1724-11-13 e José António de Castilho Correia Freire, n. 1725-11-22.Zeferino Rodrigues Condelo, filho de António Rodrigues Condelo de São Salvador de Ílhavo e de Maria da Silva Araújo casado com Inácia Luisa Margarida de Mariz Sarmento, filha de Pedro Homem de Mariz Sarmento, n. 1674 em Mougadouro, Bragança, e de Luisa Joana de Frias de Morais Sarmento. Tiveram quatro filhos: Maria Luisa Catarina de Mariz Sarmento Condelo, Bruno Condelo de Mariz Sarmento, Bernarda Teresa Umbelina Condelo de Mariz Sarmento, António Joaquim Condelo de Mariz Sarmento.

Actualmente a Quinta do Paço da Ermida é propriedade da família Pinto Basto desde há sete gerações, adquirida em 1812 por José Ferreira Pinto Basto (fundador da fábrica da Vista Alegre em 1824). Adquiriu também em 1816 em hasta pública, a capela da Vista Alegre em honra de Nossa Senhora da Penha de França, hoje classificada como monumento nacional.  

A família Pinto Bastos, além do ilustre fundador da Fábrica da Vista Alegre, contribuiu com outros dos seus membros para a organização e desenvolvimento do Concelho de Ílhavo. Domingos Ferreira Pinto Basto, filho do fundador do fábrica da Vista Alegre foi presidente da Câmara de Ilhavo em 1864 e Alberto Ferreira Pinto Basto foi também presidente da Câmara de Ilhavo em 1885, 1886, !898, 1905, 1908 e 1910.

HUGO CÁLÃO, 12 JANEIRO DE 2007