sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Igreja do Hospital da Misericórdia de Ílhavo: contributo para a História da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo.

Grupo de angariação de fundos para o Hospital
da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo, c. 1919
(fonte:http://www.ramalheira.com/paginas/rostos.htm)
  À semelhança do que aconteceu na maior parte das cidades e vilas de Portugal, a Vila de Ílhavo também teve o seu Hospital, gerido pela Santa Casa da Misericórdia, fruto da vontade de muitos e impulssionado pelo ilhavense Viriato Teles.

   Em Abril de 1919 são aprovados os estatutos da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo e a 1 de Maio de 1919 foi lançada a primeira pedra para a sua construção.
   

Direcção do Hospital de Ílhavo e grupo de Ilhavenses
que promoveram as festas de assentamento
da primeira pedra do Hospital de Ílhavo

   Na fachada posterior existiriam duas frestas do volume central com grades de ferro lendo-se, na da esquerda, as iniciais "JC" e, na da direita, a data de "1915" que crê corresponder a elementos da casa particular doada para a construção do Hospital.


 O edifício construído em U,  hoje adaptado a nova arquitectura, era composto por três volumes  criando um espaço rectangular que se abre diante da fachada principal. Adossavam-se à fachada posterior vários outros volumes que configuram aí uma disposição irregular, como o volume da Capela a sudeste.  A fachada principal apresentava no volume central piso térreo avançado com terraço corrido no segundo piso e acesso por escadaria perpendicular à fachada,  com guarda de ferro forjado. A porta disposta axialmente, rectangular, diante da escadaria, era antecedida por pórtico com dois pilares arquitrave e frontão curvo onde se lia a inscrição pintada HOSPITAL CONCELHIO / DE / ÍLHAVO, encimado por pedestal com estátua de vulto da Caridade, da autoria do mestre canteiro António de Freitas. 

   Em 1920, o edifício do hospital já se encontrava coberto e telhado e, em Setembro de 1922, inicia-se a obra de construção da capela do Hospital Misericórdia, anexa ao edifício, por iniciativa de Manuel Marques de Almeida Bastos tendo a Câmara Municipal de Ílhavo oferecido um retábulo de altar, uma tribuna, uns portões de ferro, um púlpito e um gradeamento que haviam pertencido ao extinto convento de irmãs religiosas de Calais de Ílhavo, existente anexo à Capela de Nossa Senhora do Pranto. Foi dedicada a Nossa Senhora de Fátima e benzida a 26 de Março de 1931. A benemérita D. Celeste Maria dos Santos ofereceu também um Cristo de bela escultura que encima o sacrário. 
Senhor Jesus dos Desprotegidos
inscrição: ass. Pereira Teles
Dai esmola ao nosso Asilo /
Cada um dá o que quer /
Esta casa será aquilo /
Que a Caridade quiser
   A Capela tem planta longitudinal composta por nave, capela-mor e sacristia do lado direito, volumetricamente distintos. Rebocada e pintada a branco, com elementos arquitectónicos modelados em argamassa e pintados de amarelo. A fachada principal está delimitada à esquerda e à direita por barras verticais, ligeiramente salientes e pintadas de amarelo, para simular pilastras que a dividem visualmente em dois panos, o maior correspondendo à nave e o menor simulando torre sineira. No pano principal, porta de arco pleno com pilastras e arquivoltas, encimada por dois óculos circulares e enquadrados por molduras de meias voltas suportadas por mísulas, sendo o todo rematado por cornija, que desenha uma meia volta sobre a linha da porta, e por colocados a par, empena de lanços, com volutas no vértice rematado em cruz. O pano de muro simulando torre, é encimado pela sineira de arco abatido. A fachada lateral noroeste tem duas janelas rectangulares molduradas sobre a linha média. A fachada posterior tem pequeno óculo circular na linha de base da empena e janela rectangular no corpo da sacristia.
   No interior, rebocado e pintado de branco, a nave de embasamento rematado por fina cornija salientada a amarelo, tem côro-alto sobre arcada de três arcos abatidos suportados por pilares de molduramentos pintados de amarelo, com balaustrada de madeira. O pavimento é de madeira assim como o forro de cobertura de secção poligonal pintada de azul. A meio da nave, do lado direito, encontra-se a imagem de Cristo crucificado dito Senhor Jesus dos Desprotegidos, de grande dimensão. O arco-triunfo pintado de amarelo, com pilastras e fecho saliente tem lateralmente, sobre mísulas, a imagem de São Brás, do lado direito, fazendo pendant com a imagem de Santo António de Lisboa. A capela-mor, de abóbada de berço rebocada e pintada de branco e pavimento de madeira, tem acesso por dois degraus, com retábulo muito simples de madeira pintada de branco e motivos pintados de dourado, constituído por duas colunas de fuste liso e capitéis compósitos, rematadas por frontão triangular onde se inscrevem os símbolos eucarísticos, formando um espaço central cujo fundo é a própria parede testeira, à qual se encosta o sacrário, de características decorativas afins, encimado por crucifixo. Lateralmente, na mesma parede, duas mísulas com as imagens do Sagrado Coração de Jesus em pendant com a imagem da Virgem de Fátima, sob e baldaquinos entalhados.

Provisão e autorização de bênção da Capela de Nossa Senhora de Fátima do Hospital
da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo, 26 de Março de 1931

   Ao longo dos anos, administrado pela Santa Casa da Misericórdia, o Hospital de Ílhavo foi cumprindo a sua função servindo não só a população concelhia, mas também os habitantes dos concelhos vizinhos.
   Em 1949, no dia 6 de Fevereiro é inaugurada a obra de compartimentação do piso térreo e construção de um "solarium" como prolongamento da fachada posterior do lado noroeste, deslocando-se a Ílhavo o Sr. Ministro do Interior. Em 1959 é feita a construção do bloco de radiologia no piso térreo do "solarium" e, em 1960 faz-se a construção do bloco cirúrgico António Francisco Corujo (o Ronca) como prolongamento da fachada posterior do lado nordeste.
   No pós 25 de Abril de 1974 o Hospital foi nacionalizado, passando o Estado a fazer a sua gestão, assumindo-se como principalprestador dos cuidados de saúde.
   Em 1990 deu-se o encerramento do Hospital, ficando apenas em funcionamento o Centro de Saúde e o Serviço de Atendimento Permanente que passados sete anos se mudaram para novas instalações.

   Em 2000 a capela, que se encontrava-se em avançado estado de degradação e transformada em armazém, foi intervencionada sendo feita obra de recuperação das coberturas, pintura de fachadas e no interior e beneficiação do pavimento interior.

   A Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo inaugurou as obras da renovada capela no dia 24 de Abril de 2010, aquando das comemorações do seu 91º aniversário, que contou com uma missa presidida por D. António Marcelino.

Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo:

   O Arquivo, que se encontrava no Hospital da Misericórdia de Ílhavo e ali se manteve após a passagem, em meados da década de 70 de 1900, da sua administração para o Estado, sofreu uma inundação que conduziu à sua destruição quase total.
   Desta forma o seu fundo é constituído por um reduzido número de documentação, na qual se destacam: Compromissos (1988), Actas da Assembleia-Geral (1930-1981), Actas da Mesa Administrativa (1960-1976), actas do asilo de Inválidos e Creche para Órfãos Menores (1936-1947), e Copiadores de Correspondência expedida do Hospital de Ílhavo (1938-1945).
   Possui ainda a cópia de uma brochura original relativa à Sociedade de Caridade de Ílhavo, que esteve na origem desta Santa Casa. 

Cortejo de oferendas para o Hospital da Misericórdia de Ílhavo, 21 de Dezembro de 1947

in Boletim da Assistência Social, Ed. do subsecretariado de Estado e Assistência Social, 1948, nº62, p. 102
Cortejo de oferenda para o Hospital de Ílhavo, 1947
 Beneméritos do Hospital de Ílhavo:
in Boletim da Assistência Social, Ed. da Direcção-Geral de Assistência Social, 1958, nº131, p. 246
in Boletim da Assistência Social, Ed. da Direcção-Geral de Assistência Social, 1960, nº139, p. 321

Hugo Cálão
in patrimonioreligiosodeilhavo.blogspot.com