domingo, 4 de julho de 2021

Capela de Nossa Senhora das Navegantes / Capela do Forte da Barra de Aveiro

 Capela de Nossa Senhora das Navegantes / Capela do Forte da Barra de Aveiro


   A Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, património do Estado, é o mais antigo templo católico das paróquias da península da Gafanha, junto ao primitivo forte da Barra de Aveiro.

De notar a invulgar arquitectura desta capela com as suas paredes ameadas e a ombreira da porta principal de arco em ogiva, de pedra de calcário de Ançã lavrada em espiral.

   O documento mais antigo que encontrámos referente à capela de Nossa Senhora dos Navegantes data de 23 de Dezembro de 1803, tendo sido feito nesta data visita ás capelas da Barra (Srª dos Navegantes) e Alqueidão para se verificar se estavam em condições de nelas se dizer missa, pois estavam suspensas pela sua degradação. Foi levantada a suspensão à capela do lugar da Barra. (Arquivo da Universidade de Coimbra, cabido e Mitra, cx. III, doc. 12).

   Contradizendo algumas informações de que esta capela teria sido fundada e começada a ser construída a 3 de Dezembro de 1863, informação reiterada pelo Pe. João Vieira Resende, este documento atesta que já existiria no século XVIII e que, por esta altura, terá sido beneficiada e reaberta ao culto.


Vista do forte da Barra de Aveiro, vendo-se à esquerda a Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, c.1930 

Fachada antes do restauro de 1996
   Cremos que, a posterior obra de 1863 sob a direcção do engenheiro Silvério Pereira da Silva, com custo de 400$000 réis, terá sido uma ampliação ou beneficiação da primitiva. Atestando este facto damos notícia do jornal "O Distrito de Aveiro" de 8 de Setembro de 1863
Nossa Senhora dos Navegantes - Como em tempo se havia anunciado n'este jornal, teve lugar no domingo 6 do corrente a festa. de Nossa Senhora dos Navegantes, em uma bonita capelinha que com esta invocação se acha construída junto ao porto desta cidade. Houve na vespera fogo prezo, muzica illuminaçño, e no dia, missa cantada sermão pregado pelo sr. dr. Abel Martins Ferreira, saindo no fim da festa de igreja, pelas 3 horas da tarde, procissão em que ia imagem da Senhora vestida com muito gosto decência, acompanhada por alguns mordomos, que vestiam as competentes opas. A capelinha estava bem decorada, a função religiosa correu com devida decência, o sermão foi excellente, como era de esperar do orador. Da festividade temos dito; agora digamos alguma cousa do passeio até ao logar da festa, ou, se assim quiserem, da romaria. A idêa do ter uma estrada, que dá soffrivel commodo para ir barra a toda hora do dia ou da noite, desafiava muita gente a ir ver fogo na véspera; porém ali hà poucas casas, e moda de passar noites inteiras "à la belle étoile" vai em grande decadência. Por isso muitos reservaram-se para o dia; mas ainda houve alguns entusiastas que foram d'Aveiro na véspera ver fogo, voltaram passar aqui noite, para. de novo se dirigirem para barra no dia seguinte. No domingo, porém, era muito para vêr-se a quantidade de pessoas que d'esta cidade se dirigia para ali, desde manhã, embarcadas umas, outras a cavallo, e muitíssimas pé. Na capella, e nas embarcações que por ali estavam fundeadas, tremolava grande numero de bandeiras. Armaram-se lá algumas danças, em que vimos tomar parte muitas das mais galantes tricaninhas d'esta cidade; cantou-se ao desafio, e, finalmente, foi um dia cheio aquelle. Quem não foi na véspera, nem no dia de manhã, não faltou de tarde. Antes e depois da procissão, cada. momento se viam chegar cavallo algumas das mais formosas damas d'esta cidade, e, bem entendido, indo elas, não deixavam de comparecer também muitos dos nossos leões. À noite retiraram todos muito pesarosos de não ser maior o dia para se prolongar diversão, e pouco satisfeitos com vento, que a todos fez pagar caro o prazer que ali foram gozar. Agouramos à romaria da Senhora dos Navegantes muita celebridade e grande concorrência no futuro. Os princípios  foram bons, e tudo nos leva crer que há-de ir prosperado de anno para anno. Para o bom êxito da festa dizem-nos que concorrem muito o sr. Reis, piloto-mor da Barra, tornando-se assim digno de louvor"


   Foi efectuada obra de restauro e beneficiação sendo reaberta em 30 de Março de 1996. 
(Arquivo do Porto de Aveiro, IM-BI-000273, Inauguração do Restauro da Capela do Forte do Barra, em 30 de Março de 1996)





Hugo Cálão, Set. 2010