Igreja paroquial de São Salvador

A religiosidade, o culto ao padroeiro, São Salvador, e o subsequente legado de arte sacra do concelho de Ílhavo, são a história continuada e a mais real prova da fé do povo e agregação social. 
A história da cidade não se escreveria, nem se conheceria, sem estes mil anos de registos documentados sobre a ação da Igreja em Ílhavo.
A igreja paroquial de Ílhavo assinala-se como uma das maiores do distrito, primeiro renascentista, por influência no século XVI de D. Pedro de Castilho, prior de Ílhavo, e filho do arquiteto Diogo de Castilho, depois ampliada em 1774 na que hoje conhecemos, politicamente assinalando neste ano a criação da Diocese de Aveiro. 
Guarda importante testemunho da arte devocional, conservando uma das mais relevantes custódias nacionais, esculturas renascentistas e da oficina do escultor Machado de Castro, grande conjunto de cerâmica votiva da Vista Alegre e pintura de ex-votos ao Senhor Jesus dos Navegantes, protetor dos mareantes. 
Também os homens ilhavenses que a Igreja deu ao mundo na sua ação pastoral são exemplo e testemunho de grandeza espiritual e bem-fazer, como o Arcebispo José António Pereira Bilhano, D. Manuel Trindade Salgueiro, o Padre Manuel Francisco Grilo, e muitos outros, nunca esquecendo na sua missionação a luminosidade da ria, as ondas do Atlântico e a fé dos homens de Ílhavo.

Descrição:

Edificado de planta longitudinal simples composta por duplo retângulo correspondente ao corpo da nave central, de três naves e cinco tramos e da capela-mor, esta de reduzidas dimensões mais baixa e estreita, com duas torres sineiras adossadas à fachada principal e duas sacristias adossadas à capela-mor. Massa simples, coberta de telhado de duas águas, de tendência horizontalizante.

Fachadas rebocadas e pintadas de branco percorridas por embasamento e circunscritas por cunhais apilastrados de pedra calcária.

Fachada  principal harmónica, enquadrada pelas duas torres sineiras integradas na estrutura da igreja que se elevam relativamente ao corpo central, com marcação interior de três panos diferenciados por pilastras e separadas por gradeamento em ferro, à direita com escadaria de acesso à torre e à esquerda com capela baptismal, com primitiva pia baptismal ao centro e painel de azulejos representando o baptismo de Cristo na parede fundeira. Pano central rasgado por portal de verga curva, ladeado por duas pilastras, sobre plintos paralelepipédicos, de faces almofadadas, que suportam entablamento sobre o qual se abre um janelão enquadrado entre o frontão interrompido, rematado por frontão definido por cornija que se eleva ao centro. Panos laterais rasgados por dois janelões colocados a eixo, de verga curva e rematados por frontão interrompido. Remate em cornija saliente, que lateralmente são a base do lançamento das duas torres sineiras, elevada ao centro por semi-círculo e sobrepujada por frontão de lanços com cruz pétrea no vértice ladeado por pináculos.
Torres sineiras com cunhais firmados por pináculos e abertas em todas as faces por ventanas em arco de volta perfeita; remates em cornija e coberturas piramidais; torre esquerda com relógio sob a ventana. Fachadas laterais abertas ao centro por porta travessa.

Interior de três naves com cinco tramos marcados por seis colunas toscanas em pedra de cada lado, assentes em altos plíntos, sendo dois dos pares embutidos nas paredes de extremo; cobertura de madeira nas três naves em falsa abóbada de berço, reforçada por tirantes em ferro, e em estuque na capela-mor; nas terceiras colunas, adossam-se dois pœlpitos, confrontantes, assentes sobre mísulas em pedra com guarda plena em madeira entalhada, com acesso efectuado por escadas que envolvem as colunas com guardas em ferro. Coro-alto ocupando o espaço intermédio formado pelas sineiras com acesso de escadaria pétrea do lado direito.

Nave aberta por portal axial, hoje com divisão de guarda vento em madeira e duas travessas colocadas no tramo médio.  
Paredes laterais com marcação pétrea de nichos, em arcos de volta perfeita com remates em frontão interrompido, albergando quatro retábulos em madeira entalhada e dourada, dois do lado do evangelho, o retábulo da direita dito do Sagrado Coração de Jesus e o da esquerda de Santo António, e dois do lado da epístola, o retábulo da direita de Nossa Senhora da Imaculada Conceição e o da esquerda dito do Senhor Jesus dos Navegantes.
Dois retábulos colaterais junto ao arco cruzeiro, o retábulo do lado do evangelho de Nossa Senhora do Rosário e o da epístola dito do arcanjo São Miguel e Almas, colocados em arcos de volta perfeita.




Arco cruzeiro de volta perfeita, sobreposto por frontão curvo e interrompido dando acesso à capela-mor.



















Hugo Cálão, 2006
Inventário da Igreja Matriz de São Salvador de Ílhavo de 1911


Inventário de 30 de Agosto de 1911

   Em  30 de Agosto de 1911 é realizado o inventário de bens ímóveis e móveis da paróquia de São Salvador de Ílhavo, inventário organizado para os fins do artigo 62ª e nos termos do artigo 63ª da Lei de separação do estado das Igrejas de 20 de Abril de 1911.

   Neste é arrolado unicamente a Igreja Matriz de São Salvador, e descritas como pertença da paróquia a Capela da Senhora do Pranto, a Capela do Espírito Santo de Vale de Ílhavo, a Capela da Senhora do Rosário da Ermida, a Capela da Senhora do Carmo, a Capela da Senhora da Encarnação, erectas pelo povo dos lugares e geridas por confrarias organizadas, a Capela da Senhora da Saúde, a Capela da Senhora dos Navegantes, a Capela do Santo António da Coutada, a Capela da Senhora das Necessidades dos Moitinhos, a Capela da Senhora da Luz da Légua. Inclui-se também descritas como pertença de privados a Capela da Senhora da Penha de França da Vista Alegre e a Capela de Santa Bárbara.
  
São descritos os seguintes bens imóveis, discriminadamente:
-O edificio da Igreja Matriz, com suas respectivas dependências, situado na rua Serpa Pinto desta Vila, a confrontar pelo norte, sul e poente com caminho público e do nascente com o passal
-Casa, jardim e terra lavradia anexa que constituem a residência paroquial, situada no mesmo local
-Uma vessada lavradia que faz parte do mesmo passal


noticia da obra de restauro iniciada a 8 de Março de 1950 e concluída em 10 de Novembro de 1951