sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Párocos naturais de Ílhavo: Pe. João Manuel Cajeira

O Pe. João Manuel Cajeira nasceu em Ílhavo a 16 de Agosto de 1928, filho de Manuel Pereira Cajeira e de Maria do Nascimento. Frequentou o Seminário de Santa Joana, Aveiro e o dos Olivais em Lisboa, sendo ordenado sarcedote em 29 de Junho de 1954, na Sé de Aveiro por D. João Evangelista de Lima Vidal. Iniciou-se como Vigário Paroquial de Águeda, sendo pároco de Águeda a 2 de Janeiro de 1957, sendo nomeado a 11 de Dezembro de 1958  pároco na Paróquia de São Lourenço de Pardelhas, concelho da Murtosa, onde permaneceu, durante 37 anos. Foi, também, Capelão da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa e professor no Externato da Murtosa, em Ovar e Estarreja. Faleceu em Pardelhas a 27 de Outubro de 1995, sendo sepultado no cemitério de Ílhavo.




quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A oração do Mar - por D. Manuel Trindade Salgueiro, 1947


imagem: Igreja de Nossa Senhora da Areias de São Jacinto, pormenor do painel de cerâmica "Eucaristia do mar", 1994, Jeremias Bandarra e Zé Augusto
contributo para uma religiosidade ligada ao mar (Hugo Cálão 2020)
"De todas as obras da criação, o mar é das que mais alto proclamam a sabedoria e o poder de Deus. Alarga-se o olhar ansioso pela amplidão da sua superfície, e o espírito parece abismar-se no Eterno. Até às vezes há a impressão de que na orla do horizonte, onde o azul da água se confunde com o azul do céu - dois azuis religiosos - vai surgir o Criador que faz o mar tão vasto e tão profundo.
Do seu mistério insondável, também nós participamos. Mistério de imensidade, mistério de energia, que não cansa! Em crise revolta de tempestade e em horas pacíficas de calmaria, sempre a voz cava do mar é salmo compungido. Reza a oração de louvor, que é devida a Deus, por suas perfeições infinitas; reza a oração de agradecimento, que a sua munificiência divina merece.
Envoltos em atmosfera subtil de misticismo, aprendem os marinheiros a viver - até sem o saberem - aquele sentimento religioso, que dá asas para o voo das alturas. Imersos em imensidade, sentem a imensidade de Deus que os ampara, em contacto diário e intimo com o misterioso poder que os domina, compreendem, como poucos, o poder supremo do Invisível, tornado visível nas obras que por amor criou.
Com o mar rezam e choram, pois são orações e lágrimas as suas promessas fervorosas, os seus devotos "louvados", os seus ex-votos comovidos, a sua indescritível nostalgia da vastidão oceânica.
Talvez não consigam traduzir, em formulas teológicas, a sua sede de infinito, mas nem por isso ela deixa de ser ardente e actuante.
Também as populações ribeirinhas de Ílhavo e Aveiro, habituadas à oração do mar, aprendem a rezar com ele, mesmo quando não embarcam. Dai o bordado gracioso das capelinhas do litoral, onde desafogam as suas emoções, gritam aflitivamente as suas súplicas e entoam com entusiasmo os seus louvores.
Tinha um encanto especial a pregação do Salvador, quando fazia da proa de pequenos barcos a sua cátedra predilecta. Sempre penetrante e vigorosa, a sua palavra era acompanhada da oração do Mar de Tiberiades, que aumentava ainda o sabor religioso da sua doutrinação de luz."
(nota: aos heróicos trabalhadores do mar, que partiram para as longínquas paragens do Norte, afim de que toda a mesa portuguesa seja farta e alegre.)
- imagem: Igreja de Nossa Senhora da Areias de São Jacinto, pormenor do painel de cerâmica "Eucaristia do mar", 1994, Jeremias Bandarra e Zé Augusto