terça-feira, 19 de julho de 2022

Fontes de Ílhavo - Fonte da Muchacha (desaparecida)

“Para ali estou esquecida,
Fonte da Muchacha de Ílhavo - Desenho de Palmiro
da Silva Peixe, 1926
quase enterrada, ouvindo os rouxinóis,
sem um carinho de mãe, sem
um abraço de irmão..."

Ninguém levanta um olhar misericordioso para a esquecida fonte da Rua Nova! Com o contínuo aliar de lixo para aquele beco sem saída, em poucos anos, ela que está servindo mal os moradores, acabará por dar a alma ao criador

Fontes de Ílhavo - A Fonte da Praça (desaparecida)

Fonte da Praça de Ílhavo - Desenho de Palmiro
da Silva Peixe, 1926
"Eu sou a Fonte da Praça
A Fonte do mexerico
Dizem que se vai p'rás malvas
Quem cá vem molhar o bico..."


Gozava de má fama a Fonte da Praça, hoje desaparecida juntamente com a Capela das Almas, situada no largo de Santo António, chegando os médicos a condenar as suas águas. No entanto, por ser a mais central do burgo, o visitante, não podendo resistir a tanta frescura, prova afoitamente das suas águas, mas vem a cair desfalecido nos braços do Tinoco! No meio daquele lamentável incidente de que foi vitima o ilustre visitante, todos procuram o remédio salvador. Chamam-se médicos, farmacêuticos, etc.

Apontada como perigosa para a saúde pública e quase a ser desprezada por todos, a «Fonte da Praça» tenta justificar-se:

- A volubilidade dos homens!" Enquanto a minha matriz de água esteve a descoberto, eu era uma água puríssima! Mas depois que as escolas se instalaram: por cima da casa do sr. Martins e os suínos tomaram lugar sobre os meus canos, chamam-me todos os nomes feios ... Ainda assim mesmo todos se servem da minha água para usos domésticos. Se todos quantos dela se utilizam, morressem, muita gente  em Ílhavo teria dado a alma ao criador!...

Fontes de Ílhavo - A Fonte dos Amores

“Fontinha! sorris e cantas
Fonte dos Amores de Ílhavo - Desenho de Palmiro
da Silva Peixe, 1926
Como és ditosa!
A teus pés vicejam plantas
E cresce a rosa”

Com a Fonte dos Amores de Ílhavo, no final da Rua de Espinheiro, no sítio do Arnal (ou Arenal antigamente), iniciaremos estes artigos dado notícia das quinze fontes publicadas no jornal O Ilhavense em 1926. Acompanha a informação os desenhos de Palmiro Peixe coevos.

Fonte dos Amores:

-Sou a Fonte dos Amores
A fontinha da saudade
Sou o balsamo p'rás dores
De que enferma a mocidade!

O visitante olha estupefato o garbo gentil da Fonte do Arnal e exclama entusiasmado para o ilhavense, depois de ter provado as suas águas:
— Caro amigo, até na água se nota o ressaibo a saudade e sentimento que são as características especiais da índole da gente desta terra de Ílhavo ... 

(Responde-lhe a Fonte num gorjeio de amoroso palavreado!).
— “Não admira. Se eu sou a Fonte dos Amores! Não sabia? Corre á minha volta uma verdadeira tradição de beleza, que eu tenho sabido manter com um aprumo e uma galhardia incomparáveis!
Eu, a Fonte dos Amores sou nesta linda terra, de lindas mulheres, o elixir para todos os males do coração ... 
Quisesse eu falar! quisesse eu falar!... Bebem das minhas águas os artistas, os poetas, os sonhadores. Falar em mim, é recordar essa plêiade de artistas desaparecidos. É recordar Alexandre da Conceição, o fulguroso poeta das «Alvoradas», Quim Camarão, espirito torturado; Manuel Machado, Samuel Maia e tantos outros que a avalanche dos tempos soterrou para sempre...




 


sexta-feira, 15 de julho de 2022

O anterior barco do andor do Senhor Jesus dos Navegantes de Ílhavo, 1905

Festa do Senhor Jesus dos Navegantes 1905-09-10 (Jornal d' Ílhavo nº79)


Realizou-se no passado domingo a festa que todos os anos se faz nesta vila sob a invocação do Senhor Jesus dos Navegantes, cuja imagem se venera na paroquial igreja d'esta vila.

Festa especialmente feita pelos nossos homens do mar que em angustiosos transes, sobre as ondas do mar encapelado, para o Senhor Jesus, como na sua linguagem ingênua lhe chamam, erguem a derradeira esperança de salvação; nada teve ela de maior destaque entre a dos mais anos

No arraial de sábado tocaram na Praça a magnifica Banda da Vista Alegre e a Filarmónica Ilhavense e no domingo, além das usuais festas da igreja, saiu à tarde a procissão que ia bastante concorrida e onde ia exposta à veneração dos fieis sobre o seu andor, figurando um dos cerros do Calvário, a imagem de Cristo, pregado no sagrado madeiro aonde se enrolava uma silva de martírios. Junto da imagem ia um ex-voto, um navio, que nos consta ter sido há tempos já oferecido pelo nosso amigo e patrício Francisco Sé, capitão da marinha mercante, feito com paciência e gosto nada lhe faltando dos mil petrechos de um grande navio de vela, como navegando sob a sombra protetora da cruz, onde o terno Cristo vai agonizante.

Para o próximo ano são mordomos os nossos patrícios, Tito dos Santos Marnoto, Juiz; Francisco Batata, tesoureiro; Manoel Francisco Corujo, secretario; e Joao Paroleiro, mordomo do altar.


domingo, 10 de julho de 2022

Fontes e abastecimento de água em Ílhavo

 

Análises feitas em 1931 no Laboratório de Microbiologia e Química Biológica da Universidade de Coimbra, ás águas das fontes existente em Ílhavo.

-Fonte da Praça

- Fonte do Arnal

- Fonte da Fontoura

- Fonte do Inferno




Crónica da Ermida, 1931

 in jornal O Ilhavense de 5 de Julho de 1931 

A Ermida estendia-se para o sul até próximo da Pedricosa. Ali perto, existia a chamada Quinta dos Henriques, onde havia grandes pinheiros mansos. Próximo havia uma capelinha e um povoado. Na dita capelinha, aquele povo conservava ali um capelão para dizer missa. Na parte baixa da Quinta está uma casa antiga á qual se dá o nome de Azenha da Valenta. A oeste passa a ria que banha toda esta região. Existe a fonte do inferno, notável pela boa água que dela corre. É uma água tão pura que vem algumas mulheres de Ílhavo com seus potes e jarras de barro vermelho para levarem água para consumo de suas casas. Perto desta fonte está a azenha do inferno. Do lado sul tem a antiga praça da Ermida onde se realizava o mercado semanal que dizem ser abundante em géneros alimentícios. Também existia na Ermida um chafariz antiquíssimo e muito abundante de água que foi demolido quando se procedeu á construção da estrada. A antiga capela já contava talvez quinhentos anos; foi também demolida para dar passagem á mesma estrada. O lugar da Ermida foi julgado, tinha juiz, delegado e todo o mais funcionalismo necessário. Quando alguém praticava qualquer delito, era julgado e deportado para fora da Vila e Termo.

 in jornal O Ilhavense de 5 de Julho de 1931 

A fonte de Alqueidão e a 'Moura encantada'

O povo, na sua eterna crendice, na sua doce lenda, fantasiando as mais extraordinárias aspirações e a existência dos mais extravagantes seres, anda agora preocupado com a aparição duma moira encantada que a certas horas surge à flor das águas na romântica Fonte de Alqueidão, exibindo a sua loira e farta cabeleira doirada e as formas lindas do seu corpo esbelto, meio mulher e meio peixe ...

-“Uma moira encantada na Fonte de Alqueidão!...'

A notícia correu célere. A lenda ateou entre as almas simples. A crença lavrou fundo nos peitos ingénuos que à volta do caso vão tecendo as mais inverosímeis versões.

Crianças e velhos palmilham a quase deserta rua de Alqueidão, numa irritante credulidade, para observarem de viso esse monstro mitológico que a desoras surge no seu encanto para ouvir - quem sabe? talvez o melodioso gorjeio dos rouxinóis nestas suaves noites de primavera!...

Aquele poético o solitário retiro onde o cantarolar das águas da fonte forma harmonioso conjunto com os dobrados do passaredo, tem tido, nestas ultimas noites, tanta concorrência que os verdadeiros moiros e moiras - namorados e namoradas - que por ali sonhavam na quebra dos seus encantos, foram obrigados a procurar outras solidões onde mais à vontade possam por em prática esses sortilégios amorosos ... 

-“Uma moira encantada!... A atávica credulidade ! 

Aquele ruído estranho, aquele ronronar pesado e surdo que representa para a crendice popular o ressonar profundo da moira, nas horas calorentas da sesta, ou nas horas silenciosas da noite; aquele misterioso murmúrio que tanto pode ser o trabalhar das águas nas entranhas da terra, como o resfolgar dum reptil, cala mais fundo no âmago da populaça, infunde mais no espirito das gentes, que todos os exórdios que hajam de se pregar para opor como barreira a essa fantasia das almas simples e crédulas!

-“Uma moira encantada!...“ Oh! a eterna crendice deste povo!


in jornal O Ilhavense de 5 de Maio de 1930


Festa do Senhor Jesus dos Navegantes de Ílhavo em 1922

A Festa do Senhor Jesus dos Navegantes

Na próxima semana, sábado, domingo e segunda feira deve realizar-se nesta Vila a tradicional festividade em honra do Senhor Jesus dos Navegantes imagem que os nossos ousados e intrépidos marinheiros veneram cheios de Fé e cuja proteção invocam nos lances aflitivos da sua arriscada vida!
Esta festa tem um cunho característico de unção porque ninguém, como o marinheiro, sente que é preciso ter crença. Por isso ele se esforça por que a sua festa revista muito brilhantismo como certamente vai acontecer este ano em que a Comissão é composta de indivíduos briosos e muito amantes da sua terra. 
No sábado  haverá o costumado arraial que durará até ás 2 horas da madrugada de domingo. Assistirão as bandas da Vista Alegre e a Velha, de Aveiro. A iluminação está a cargo dum iluminador de Pardelhas e o fogo de um afamado pirotécnico do norte. No domingo celebrar-se-á a missa solene a grande instrumental, subindo ao púlpito, após o Evangelho, um afamado orador de Braga. À tarde sairá a procissão com a incorporação de algumas irmandades e da comovedora imagem do Senhor Jesus. Na segunda-feira de manhã começará a comissão a tirar a esmola, devendo ter lugar ao meio dia, a entrega dos ramos á nova comissão. 

In jornal O Ilhavense, nº40, 27 Agosto de 1922


terça-feira, 5 de julho de 2022

Vista Alegre - Memória Histórica

A primitiva devoção a São Caetano na Vista Alegre.



Bebe, pois, bebe á vontade.
Acharás que é (muitas vezes)
Tão útil para a saúde
Quão para a Vista Alegre.