domingo, 13 de março de 2022

Património de março: Custódia do Divino Salvador de Ílhavo (Centro de Religiosidade Marítima)

A custódia da igreja de Ílhavo é uma soberba peça de ourivesaria sacra renascentista, de transição entre o tipo de custódia com hostiário em forma de templete para hostiário circular. Tal como a primeira edição da epopeia marítima Os Lusíadas, por Luis Vaz de Camões, esta peça celebra 450 anos. É uma das mais referenciadas custódias ao nível nacional, presente nas exposições de Arte Ornamental de Lisboa em 1882, onde foi fotografada por E. Biel, exposição de Arte Religiosa de 1895 em Aveiro, exposição de Ourivesaria Portuguesa dos séc. XIII a XVII, realizada em Coimbra em 1940, para a qual foi restaurada, entre outras mais.

Sobressai pela sua dimensão com quase um metro de altura. Embora sem marcas de ourives, poderemos apontar como possível datação a encomenda pelo prior de Ílhavo D. Pedro de Castilho entre 1572-1578, figurando as suas Armas-de-fé na base. Tem semelhanças com a custódia-cálice de Belém (na haste), e igual morfologia nas três custódias de menor dimensão de ourives de Aveiro, existentes no Museu Machado de Castro de Coimbra, na Misericórdia de Aveiro e na Paróquia de Vagos (a base e hostiário).

D. Pedro de Castilho nasceu em meados de 1500, filho do arquiteto da Sé de Coimbra Diogo de Castilho. Foi um dos homens mais importantes de Portugal durante o governo da dinastia filipina (1580-1640), onde ao abrigo do que ficara estabelecido nas Cortes de Tomar de 1581, a regência do Reino de Portugal devia ser sempre confiada pelo rei a um português, ou em alternativa a um membro da Família Real. Pedro de Castilho foi nomeado bispo de Angra em 1578, bispo de Leiria em 1583, inquisidor-geral do reino em 1604 e por duas vezes Vice-Rei de Portugal, entre 1605-1608 e 1612.