domingo, 13 de março de 2022

A Seca de Bacalhau na Gafanha 1903 - contributo para a sua história

Lugre bacalhoeiro Náutico junto 
à seca de bacalhau na Gafanha, 1903 
(fotografia de Arnaldo Ribeiro)


















De um velho pergaminho existente no Arquivo Municipal de Aveiro se depreende que durante toda a primeira metade do século XVI se secou e beneficiou bacalhau em Aveiro, lendo-se na lei de 3 de novembro de 1571, art.23: "As naus que forem das vilas de Aveiro e Viana, e de qualquer parte destes reinos e senhorios à pescaria do bacalhau, irão armada  e elegerão entre si ao tempo que partirem, capitão-mor, tudo conforme a este regimento, etc."

Durante o reinado de D. Manuel I era em Aveiro que eram armados mais barcos para a pesca longínqua, tal como viria a ser mais tarde no século XX. Segundo a “Corografia Portuguesa”, seriam cerca de 60 naus só para a pesca na Terra Nova, número que subiu para aproximadamente 150 em 1550.
Foram grandes as vantagens que advieram Aveiro com esta industria, em parte criada por homens de Aveiro e Ílhavo. Então muitos estrangeiros, especialmente ingleses, holandeses e biscainhos, aqui se vieram estabelecer, fazendo construir vastos armazéns para recolher o peixe depois de preparado. Tudo isso, porém, com o crescente assoreamento da Barra da ria de Aveiro, se perdeu. Então, como mais tarde se retomou, o peixe pescado pelos marítimos aveirenses não era curado nas praias vizinhas ao lugar de pesca mas sim conservado a bordo em sal. Chegado a Aveiro era efetuada a sua seca, junto ao areal da Gafanha ou na ilha de Sama, então com maior área do que hoje.

Depois de um interregno de quase três séculos, ressurge em Aveiro e Ílhavo a velha industria do bacalhau, sendo pioneira a arrojada iniciativa de António Marques de Freitas e João Pedro Soares, que no ano de 1903 mandaram para a Terra-Nova o lugre Náutico, antigo Nazaré, e que voltando carregado de bacalhau fez construir a primeira seca para bacalhau na Gafanha da Nazaré. Em fotografia desse ano se pode ver o navio junto ao estabelecimento de secagem e depósito de pescado então dirigido por João Pedro de Mendonça Barreto, representante de Marques Freitas. Ali, em pioneira ação, o bacalhau, já escalado e salgado, é submetido à lavagem, prensagem de dessecamento ao ar livre. Concluída a cura era transportado para a cidade de Aveiro, para o depósito na Rua do Cais, onde se efetuava a venda.

Seca de bacalhau na Gafanha, in boletim Arquivo do Distrito de Aveiro