Como relata o jornal “O ilhavense” o
lugre de três mastros “Gafanhoto”
saíra do Porto com carregamento de cimento
com destino à barra de Aveiro. Ao aproximar-se de Aveiro foi colhido pelo mau
tempo e, fazendo-se ao largo, nunca mais foi visto. Sem mantimentos, sem meios
de segurança, a sua sorte começou a preocupar toda a gente. Confiava-se na
valentia do capitão, mas, perante os elementos desencadeados, começava-se a
perder esperança de salvamento. Alguns dias depois recebeu-se um telegrama
anunciando que o “Gafanhoto” atracara em Leixões com grave avaria. Renasceu a alegria
em muitos corações e secaram-se em muitos olhos as lágrimas. Os tripulantes do
navio, que viram a morte diante dos olhos, no momento agudo do perigo
ajoelharam no convés do barco e prometeram mandar celebrar missa e sermão ao
Senhor Jesus dos Navegantes, se fossem salvos. Cumpriram a sua promessa no dia 29
de Janeiro de 1933, celebrando na igreja paroquial de Ílhavo, missa com
sermão do reverendo padre António Alves e acompanhamento da orquestra da
Filarmónica Ilhavense. O quadro oferecido do pintor ilhavense Palmiro Peixe mostra,
como habitual, no canto superior esquerdo, a imagem Senhor Jesus dos Navegantes
envolto em raios de luz com legenda retangular – “Lugre Gafanhoto" / Ao
Senhor Jesus dos Navegantes oferecem: o Capitão Amândio Mathias Lau e
tripulação.
O lugre Gafanhoto foi construído em 1919
por Joaquim Dias Ministro em Pardilhó e teve como primeiro armador Bagão &
Ribaus, Lda. Após este episódio foi reparado e rebatizado de San Jacinto e motorizado
para a campanha de 1934. Navegou até 1952. Expõe-se hoje
no Centro de Religiosidade Marítima, extensão do Museu Marítimo de Ílhavo, que materializa,
pela primeira vez em Portugal, um percurso permanente musealizado de
valorização do património religioso da vivência da comunidade local com a
cultura do mar associada à maritimidade e à pesca do bacalhau.
https://www.cm-ilhavo.pt/cmilhavo2020/uploads/document/file/8292/agenda_janeiro2022.pdf