O Arcebispo de Évora, José António Pereira Bilhano, nasceu em Ílhavo no dia 22 de Março de 1801 e aqui faleceu, também, a 18 de Setembro de 1890. Foram seus pais João António Bilhano e Rosa Maria de Jesus, casal de pescadores de reconhecida pobreza. Bem novo se inclinou para a vida eclesiástica, mas os poucos haveres de sua família e a morte prematura de seu pai vieram agravar a situação familiar os seus estudos. O seu conterrâneo Dr. Manuel Rocha Couto, ilustre deputado por Aveiro nas legislaturas de 1822/23 e 26/28, reconhecendo-lhe a vocação, e mais que tudo a inteligência, apresentou-o um dia ao bispo de Aveiro D. Manuel Pacheco de Resende, que o tomou sob a sua proteção.
Formou-se em Cânones na Universidade de Coimbra com 22 anos.
Formou-se em Cânones na Universidade de Coimbra com 22 anos.
Por morte de D. Manuel Pacheco de Resende, bispo de Aveiro em 17 de Fevereiro de 1837, o então Pe. José António Pereira Bilhano sofreu com esse acontecimento profunda depressão moral, tendo pedido exoneração de todos os cargos que desempenhava, tendo-se retirado para a sua modesta casa de Ílhavo, dedicando-se com a colaboração do padre Fernando Eduardo Pereira, ao ensino de Francês, Latim e Latinidade, História, Geografia, Lógica e Retórica, trabalho que exercia de forma gratuita. Como nessa altura havia poucos estabelecimentos de ensino secundário, Ílhavo tornou-se um grande centro de instrução e de cultura, graças à ação do Arcebispo. Em 1849 foi nomeado pároco de Oliveirinha; e em 1851 provido por concurso na igreja de Ílhavo. Foi eleito deputado pelo círculo de Aveiro em 1853, em companhia de Mendes Leite e Francisco Resende. Em 21 de Fevereiro de 1860 foi-lhe novamente confiado o cargo de vigário-geral do bispado de Aveiro, que exerceu até 17 de Março de 1868, época em que alguns políticos valiosos do distrito o obrigaram a demitir-se, visto não querer cometer a indignidade e violência de forçar os párocos do círculo de Anadia a patrocinar a eleição de um deputado que disputava o mesmo ao conselheiro José Luciano de Castro. Em 21 de Outubro de 1869, sendo ministro da justiça aquele estadista, foi por ele nomeado arcebispo metropolitano de Évora. É confirmado arcebispo a 6 de Março de 1871. Partiu para Évora no dia 7 de Junho de 1871 e fez a sua entrada solene no dia 8. Em 1862 estando interrompidas as relações entre Portugal e a Santa Sé, foi-lhe por Gregório XVI delegada a autoridade e jurisdição necessária para todos os negócios espirituais da Diocese de Aveiro, recebendo aquando do restabelecimento das relações carta autografada de sua Santidade agradecendo e reconhecendo os relevantes serviços que prestara à Igreja. O seu governo da Diocese de Évora foi distinto como se pode ver pelas inúmeras medidas adotadas: tomou contas aos conventos, que se não davam desde 1850, obstando assim abusos dos procuradores; acabou com a diversidade de rituais, fazendo adotar o de Paulo VI; obrigou todos os sacerdotes menores de 50 anos a fazerem exame de teologia moral, o que era coisa de que não havia memória no arcebispado, decisão que lhe acarretou grandes desgostos, mas cumprida sem uma única exceção; elevou ao dobro o rendimento da Bula da Santa Cruzada; criou o quadro da Relação e nomeou juízes para este e para o Tribunal da secção Pontifícia, fez a proposta dos juízes à Nunciatura (note-se que havia causas nestes tribunais que à 5 anos não se julgavam por falta de juízes); regulou a forma dos processos e uniformizou uma tabela de emolumentos; criou o lugar de escrivão do contencioso que mão havia no Juízo Eclesiástico; regularizou a tabela da Câmara Eclesiástica; fez à sua custa um Tombo novo das propriedades da Mitra e registou todos os foros na conservatória, também do seu bolso; obrigou todos os párocos a fazerem Rol de Confessados, o que tinha caído em desuso; publicou diversas pastorais sobre residencias dos párocos, catequese, etc. Amigo íntimo de José Estêvão não levava à conta de sacrifícios todas as dedicações que lhe tributou nas situações tempestuosas da sua agitada vida politica. Nas eleições de 1862, quando Aveiro parecia esquecer o seu filho mais ilustre, o arcebispo Pereira Bilhano lançou-se a salvar de vergonha a terra que com tanta ingratidão pagava os benefícios do eminente tribuno, presidindo ao seu funeral em Fevereiro de 1866 e inaugurando o monumento aos mártires da liberdade justiçados em 1829. Governou a Arquidiocese eborense até à sua morte, em 1890, tendo sido coadjuvado nos últimos anos por D. Augusto Eduardo Nunes, que veio a ser o seu sucessor. O Arcebispo aveirense D. João Evangelista de Lima Vidal, bispo de Aveiro, a respeito do Arcebispo Pereira Bilhano escreveu: "morreu em Ílhavo em conceito de santidade. Ainda se conserva, no Museu de Aveiro, a mitra que ele trouxe com pia nobreza na fronte e a cruz episcopal, que lhe aqueceu de virtudes o peito. Será lenda o que se dá conta à hora do meio-dia, quando as chaminés fumegavam do gordo aroma do caldo, ele subia ao mirante da sua casa e pesquisava com um binóculo se alguma porventura estava morta, no meio das outras, desse penacho de fumo pronunciador; e se alguma avistava assim triste, logo corria a dar-lhe a vida que lhe faltava. Pode ser lenda, mas a verdade é que só à volta dos santos as graciosas lendas se tecem. Não é ornato, este das lendas, para todo e qualquer."