sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Património de janeiro: Lugre Gafanhoto - Ex-voto ao Senhor Jesus dos Navegantes (Centro de Religiosidade Marítima)

Como relata o jornal “O ilhavense” o lugre de três mastros “Gafanhoto”
saíra do Porto com carregamento de cimento com destino à barra de Aveiro. Ao aproximar-se de Aveiro foi colhido pelo mau tempo e, fazendo-se ao largo, nunca mais foi visto. Sem mantimentos, sem meios de segurança, a sua sorte começou a preocupar toda a gente. Confiava-se na valentia do capitão, mas, perante os elementos desencadeados, começava-se a perder esperança de salvamento. Alguns dias depois recebeu-se um telegrama anunciando que o “Gafanhoto” atracara em Leixões com grave avaria. Renasceu a alegria em muitos corações e secaram-se em muitos olhos as lágrimas. Os tripulantes do navio, que viram a morte diante dos olhos, no momento agudo do perigo ajoelharam no convés do barco e prometeram mandar celebrar missa e sermão ao Senhor Jesus dos Navegantes, se fossem salvos. Cumpriram a sua promessa no dia 29 de Janeiro de 1933, celebrando na igreja paroquial de Ílhavo, missa com sermão do reverendo padre António Alves e acompanhamento da orquestra da Filarmónica Ilhavense. O quadro oferecido do pintor ilhavense Palmiro Peixe mostra, como habitual, no canto superior esquerdo, a imagem Senhor Jesus dos Navegantes envolto em raios de luz com legenda retangular – “Lugre Gafanhoto" / Ao Senhor Jesus dos Navegantes oferecem: o Capitão Amândio Mathias Lau e tripulação.

O lugre Gafanhoto foi construído em 1919 por Joaquim Dias Ministro em Pardilhó e teve como primeiro armador Bagão & Ribaus, Lda. Após este episódio foi reparado e rebatizado de San Jacinto e motorizado para a campanha de 1934. Navegou até 1952. Expõe-se hoje no Centro de Religiosidade Marítima, extensão do Museu Marítimo de Ílhavo, que materializa, pela primeira vez em Portugal, um percurso permanente musealizado de valorização do património religioso da vivência da comunidade local com a cultura do mar associada à maritimidade e à pesca do bacalhau.


https://www.cm-ilhavo.pt/cmilhavo2020/uploads/document/file/8292/agenda_janeiro2022.pdf

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Património de fevereiro: São Brás (Centro de Religiosidade Marítima)

São Brás nasce na Arménia no final do século III. Não há muitos registos sobre sua vida, porém, na vida adulta, sabemos que Brás foi médico. Grande evangelizador, tratou doenças físicas e da alma, ficando conhecido por retirar um espinho da garganta de uma criança. Por esse motivo, é padroeiro das doenças da garganta. A sua festa litúrgica celebra-se anualmente na Igreja paroquial de Ílhavo no dia 3 de fevereiro, ou fim de semana próximo, sendo tradição oferecer aos fiéis rebuçados de São Braz e pagando os devotos as suas promessas em esmola ou ex-votos de cera em forma de garganta.

Encontrando-se Ílhavo numa zona caracterizada por uma grande produção de imagens em pedra calcária (desde a transição do Românico para o Gótico até ao Renascimento), o São Brás da Igreja de Ílhavo é uma imagem tardo-renascentista de início do século 17 e acompanha uma imagem de Santa Luzia de igual autoria, hoje expostas no Centro de Religiosidade Marítima.
A atual imagem ao culto de São Brás, em madeira, foi adquirida em 1955 por D. Júlio Tavares Rebimbas na Oficina Casa Fânzeres de Braga.
Os mareantes de Ílhavo, por devoção, batizaram sob a sua proteção o Hiate São Bráz, ativo em meados do século XIX (c.1856), comandada pelo mestre J. D. Magano.