domingo, 4 de julho de 2021

Capela de Nossa Senhora das Navegantes / Capela do Forte da Barra de Aveiro

 Capela de Nossa Senhora das Navegantes / Capela do Forte da Barra de Aveiro


   A Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, património do Estado, é o mais antigo templo católico das paróquias da península da Gafanha, junto ao primitivo forte da Barra de Aveiro.

De notar a invulgar arquitectura desta capela com as suas paredes ameadas e a ombreira da porta principal de arco em ogiva, de pedra de calcário de Ançã lavrada em espiral.

   O documento mais antigo que encontrámos referente à capela de Nossa Senhora dos Navegantes data de 23 de Dezembro de 1803, tendo sido feito nesta data visita ás capelas da Barra (Srª dos Navegantes) e Alqueidão para se verificar se estavam em condições de nelas se dizer missa, pois estavam suspensas pela sua degradação. Foi levantada a suspensão à capela do lugar da Barra. (Arquivo da Universidade de Coimbra, cabido e Mitra, cx. III, doc. 12).

   Contradizendo algumas informações de que esta capela teria sido fundada e começada a ser construída a 3 de Dezembro de 1863, informação reiterada pelo Pe. João Vieira Resende, este documento atesta que já existiria no século XVIII e que, por esta altura, terá sido beneficiada e reaberta ao culto.


Vista do forte da Barra de Aveiro, vendo-se à esquerda a Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, c.1930 

Fachada antes do restauro de 1996
   Cremos que, a posterior obra de 1863 sob a direcção do engenheiro Silvério Pereira da Silva, com custo de 400$000 réis, terá sido uma ampliação ou beneficiação da primitiva. Atestando este facto damos notícia do jornal "O Distrito de Aveiro" de 8 de Setembro de 1863
Nossa Senhora dos Navegantes - Como em tempo se havia anunciado n'este jornal, teve lugar no domingo 6 do corrente a festa. de Nossa Senhora dos Navegantes, em uma bonita capelinha que com esta invocação se acha construída junto ao porto desta cidade. Houve na vespera fogo prezo, muzica illuminaçño, e no dia, missa cantada sermão pregado pelo sr. dr. Abel Martins Ferreira, saindo no fim da festa de igreja, pelas 3 horas da tarde, procissão em que ia imagem da Senhora vestida com muito gosto decência, acompanhada por alguns mordomos, que vestiam as competentes opas. A capelinha estava bem decorada, a função religiosa correu com devida decência, o sermão foi excellente, como era de esperar do orador. Da festividade temos dito; agora digamos alguma cousa do passeio até ao logar da festa, ou, se assim quiserem, da romaria. A idêa do ter uma estrada, que dá soffrivel commodo para ir barra a toda hora do dia ou da noite, desafiava muita gente a ir ver fogo na véspera; porém ali hà poucas casas, e moda de passar noites inteiras "à la belle étoile" vai em grande decadência. Por isso muitos reservaram-se para o dia; mas ainda houve alguns entusiastas que foram d'Aveiro na véspera ver fogo, voltaram passar aqui noite, para. de novo se dirigirem para barra no dia seguinte. No domingo, porém, era muito para vêr-se a quantidade de pessoas que d'esta cidade se dirigia para ali, desde manhã, embarcadas umas, outras a cavallo, e muitíssimas pé. Na capella, e nas embarcações que por ali estavam fundeadas, tremolava grande numero de bandeiras. Armaram-se lá algumas danças, em que vimos tomar parte muitas das mais galantes tricaninhas d'esta cidade; cantou-se ao desafio, e, finalmente, foi um dia cheio aquelle. Quem não foi na véspera, nem no dia de manhã, não faltou de tarde. Antes e depois da procissão, cada. momento se viam chegar cavallo algumas das mais formosas damas d'esta cidade, e, bem entendido, indo elas, não deixavam de comparecer também muitos dos nossos leões. À noite retiraram todos muito pesarosos de não ser maior o dia para se prolongar diversão, e pouco satisfeitos com vento, que a todos fez pagar caro o prazer que ali foram gozar. Agouramos à romaria da Senhora dos Navegantes muita celebridade e grande concorrência no futuro. Os princípios  foram bons, e tudo nos leva crer que há-de ir prosperado de anno para anno. Para o bom êxito da festa dizem-nos que concorrem muito o sr. Reis, piloto-mor da Barra, tornando-se assim digno de louvor"


   Foi efectuada obra de restauro e beneficiação sendo reaberta em 30 de Março de 1996. 
(Arquivo do Porto de Aveiro, IM-BI-000273, Inauguração do Restauro da Capela do Forte do Barra, em 30 de Março de 1996)





Hugo Cálão, Set. 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Párocos naturais de Ílhavo: D. Manuel Trindade Salgueiro, Arcebispo

Manuel Trindade Salgueiro, contributos para uma cronologia:


1898-07-28 - Manuel Trindade Salgueiro nasce em Ílhavo filho de gente humilde, ficando órfão de pai muito novo (seu pai perdeu a vida no mar, tragado pelas ondas aos 24 anos, à vista de Ponta Delgada, como tantos dos nossos conterrâneos). Faz a instrução primária no Asilo-Colégio de Nossa Senhora do Pranto de Ílhavo, gerido por irmãs franciscanas missionárias de Calais do Extinto Convento da Madre de Deus de Sá de Aveiro.
1898-10-20 - É batizado na Igreja Paroquial de São Salvador de Ílhavo.

1921-02-19 - É ordenado sacerdote.
1922-00-00 - O Bispo Conde D. Manuel Luís Coelho da Silva envia-o para a Universidade de Estrasburgo onde se licencia em Direito Canónico e faz doutoramento em Teologia.
1923-06-29 - É-lhe passado o certificado de Direito Canónico pelo Conselho da Universidade de Estrasburgo.
1924-01-10 - Data do diploma de Licenciatura em Teologia, assinado pelo Diretor Geral da Instrução Pública e Reitor da Academia de Estrasburgo.
1924-06-28 - Diploma de Estudos Superiores de Direito Canónico pelo Conselho da Universidade de Estrasburgo.
1925-00-00 - Defende a tese de doutoramento sobre "La Doctrine de Saint Augustim sur la Grâce d'après le traité à Simplicien", editada no Porto nesse ano.
1925-10-17 - O Bispo de Coimbra por decreto, nomeia-o para professor de Hermeneutica e Direito Canónico no Seminário de Coimbra.
1926-04-26 - Diploma de Doutor em Teologia pela Universidade de Estrasburgo, assinado pelo Ministro da Educação Lucien Lamoureux.
in jornal O Ilhavense
de 29 de Maio de 1927
1927-10-23 - Nomeado capitular da Sé de Coimbra para o lugar de Cónego Teólogo, com obrigação de proferir a homilia dominical.
1929-00-00 - Publica o compêndio "Apontamentos de Oratória Sagrada".

1931-00-00 - Escreve e são editados em Coimbra os folhetos "Um livro infeliz" e "Trágico descarrilhamento".
1933-00-00 - É editado em Coimbra "Papel da Vontade na Educação", a série de artigos publicados no "Correio de Coimbra" sobre educação e mocidade.
1934-00-00 - É nomeado para a Reitoria da Capela da Universidade e faz o prefácio do livro "Inquietação" de Maria Gabriel.
1935-02-16 - Comunicação proferida na Biblioteca da Universidade de Coimbra "O enigma humano", editada nesse ano.
1935-11-20 - Nomeação para assistente eclesiástico do C.A.D.C., onde escreve para a revista "Estudos" o artigo "Sentido da Vida".
1936-00-00 - Na revista "Estudos" publica "A graça no acto de Fé". Faz na Sé de Coimbra a oração fúnebre de D. Manuel Luís Coelho da Silva, publicada sob o título "Um bispo".
1937-04-08 - Decreto do bispo de Coimbra, D. António Antunes, nomeando-o para o cargo de Oficial da Cúria Diocesana.
1937-05-28 - É contratado para professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde regeu as cadeiras de História da Filosofia Medieval e Moral.
1937-06-04 - Dá a primeira lição na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e publica na revista "Estudos" o trabalho " A inteligência no acto de fé" e colabora no livro à memória do Doutor António de Vasconcelos.
1938-00-00 - Edita em Coimbra a obra "Pureza e Sensualismo", fruto das suas conferências na Sé Nova de Coimbra.
1939-00-00 - Escreve o prefácio de "Cartas Abertas" de Marinho da Silva e colabora no "In Memoriam" do Doutor Serras e Silva.

1940-04-07 - O Bispo-Conde de Coimbra escolhe-o para Assistente-Geral da Ação Católica na Diocese de Coimbra.
1940-11-23 - É nomeado, pelo papa Pio XII,  bispo titular de Helenópole da Palestina, para auxiliar do Patriarcado de Lisboa.
1940-00-00 - Publica na revista "Biblos" o trabalho "Conhecimento intelectual na Filosofia de Fr. João de São Tomás".
1941-02-23 - Recebe na Sé de Lisboa a sagração episcopal das mãos do Cardeal Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira, sendo consagrantes os bispos de Coimbra, D. António Antunes e o bispo de Vatarba, D. João da Silva Campos Neves.
1941-03-30 - É nomeado Presidente da Junta Central e Assistente Geral da Ação Católica Portuguesa.
1941-04-00 - A Universidade de Coimbra concede-lhe as insígnias de Doutor "Honoris Causa" da Faculdade de Letras.
1941-04-00 - Faz pela primeira vez a cerimónia de bênção da frota de barcos bacalhoeiros em Belém, e largada no rio Tejo para mais uma campanha nos mares da Terra Nova e da Groenlândia.
1941-00-00 - Publica nesse em Coimbra as recensões críticas "Cursum Theologicum Joannis a S. Thomas..."
1942-04-00 - Preside em Lisboa ao Congresso da Juventude Católica Feminina.
1942-00-00 - Prefacia os livros: "Inquietação" do Padre Moreira das Neves, editado em Leiria e "A Igreja e os Problemas Sociais", edição da Ação Católica Portuguesa.
1943-02-11 - É eleito sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa.
1943-00-00 - Escreve o prefácio "Sementeira de Luz" para o livro "Vinte Anos em Coimbra" com trabalhos de D. Manuel Gonçalves Cerejeira.
1943-00-00 - Faz a "Carta Prefácio" do livro "Deus", poema de Miguel Trigueiros.
1945-00-00 - É editado em Coimbra o seu livro "Mensagem Cristã" e prefacia a obra de Civardi "Apostolado no próprio meio", editada em Coimbra.
1947-05-00 - Assiste à canonização de São João de Brito em Roma.
1947-00-00 - Edita em Madrid a tradução espanhola "Pureza y Sensualismo". Prefacia o livro de Ó Brien "Deus existe?", editado no Porto, e "Os problemas actuais à luz do Cristianismo, edição da Ação Católica Portuguesa.
1948-03-15 - Recebe o Diploma de Irmão da "Celestial Ordem Terceira da Santíssima Trindade" da Cidade do Porto.
1948-00-00 - Acompanha a Gloucester, a bordo do navio "Gil Eanes", a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem oferecida pelos pescadores portugueses aos seus irmãos daquele porto piscatório americano.
1948-00-00 - É nomeado Presidente Honorário do Instituto António Cabreira.
1949-03-14 - É elevado ao título pessoal de arcebispo de Mitilene, "in Lesbo Insula". 


1950-03-26 - Preside à bênção da frota bacalhoeira fundeados no Tejo, junto à doca de Belém com cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos.
1950-05-00 - Preside ao Congresso da Juventude Independente Católica Feminina.
1950-05-00 - Toma parte, em Roma, nas reuniões preparatórias do Congresso Mundial do Apostolado dos Leigos.
1950-05-00 - Pronuncia o elogio de São João de Deus no 4º Centenário comemorado em sessão solene na Academia das Ciências de Lisboa.
1950-05-00 - Escreve a "Carta-prefácio" do livro "Fátima e a conversão do mundo" da autoria do padre José Pedro da Silva.
1950-12-00 - Participa no Congresso Nacional dos Homens Católicos.
1951-02-28 - Por decreto, a Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, nomeia-o "Grão-Prior" da Ordem com breve apostólico datado de 9 de Junho.
1951-11-29 - Realiza a Oração Fúnebre da Rainha D. Amélia.
1951-12-00 - Recebe o Diploma da Academia Marial de Roma e escreve a "Introdução" à "História de Jesus segundo a concordância dos Evangelhos".
1952-00-00 - Representa o Episcopado Português nas Comemorações do IV centenário da morte de São Francisco Xavier, realizadas em Pamplona.
1952-00-00 - Aparece em Buenos Aires a tradução espanhola "El papel de la Voluntad em la Educacion".
1953-04-00 - Preside ao Congresso da Juventude Universitária Católica (JUC). Prefacia o livro do Padre Moreira das Neves "O Anjo das Três Loucuras".
1954-01-26 - A S.C. Consistorial nomeia-o Diretor dos Capelães Portugueses para os Navegantes.
1954-04-08 - É eleito académico de número da Academia de Ciências de Lisboa.
1954-04-12 - Participa no Congresso da Juventude Operária Católica (JOC) e da Juventude Operária Católica Feminina (JOCF). 
1954-00-00 - Publica "PIO XII e a Ação Católica e escreve as "Cartas-Prefácios" para as obras de António de Azevedo Pires "O homem que é Deus", de Serafim Lopes "Luz do Infinito", e as palavras de abertura "Flores da Alma" no Boletim "Cormarie".
1955-00-00 - Escreve o Prólogo do livro do Cardeal Mindszenty "A Mãe", editado em Coimbra.
1955-03-18 - É nomeado Diretor Nacional da Obra da Emigração em Portugal.
1955-05-20 - A Santa Sé eleva-o ao Arcebispado de Évora sendo escolhido, para a sede arquiepiscopal de Évora.
1955-07-00 - Assiste ao Congresso Eucarístico Internacional no Rio de Janeiro, visitando várias cidades do Brasil, onde recebe o Diploma de Sócio Honorário da União Portuguesa.
1955-08-15 - Toma posse do Arcebispado Eborense, por procuração.
1955-10-16 - Entra solenemente na Cidade de Évora, proferindo na Sé a Pastoral de entrada.
1955-11-20 - Visita pastoral da freguesia de Lavre.
1955-11-26 - Nomeia Vigário Geral o Cónego Dr. Francisco Maria da Silva, futuro Arcebispo Primaz de Braga.
1955-12-18 - Visita pastoral da cidade de Elvas.
1956-01-03 - Em Faro preside e faz o elogio fúnebre nas exéquias do 30º dia de falecimento do Bispo D. Marcelino Franco.
1956-03-22 - Preside na Sé de Évora às exéquias solenes do 1º aniversário da morte do seu antecessor D. Manuel Mendes da Conceição Santos.
1956-04-15 - Visita pastoral à cidade de Estremoz.
1956-04-29 - Visita pastoral a Montemor-o-Novo.
1956-05-00 - Visita pastoral a Campo-Maior.
1956-06-00 - Visita pastoral a Arraiolos e a Viana do Alentejo.
1956-07-00 - Visita pastoral a Vila Viçosa.
1956-07-31 - Faz o panegírico de Santo Inácio de Loyola na igreja de São Roque em Lisboa, nas comemorações do IV centenário da sua morte.
1956-10-20 - Visita pastoral a Mora.
1956-11-22 - Visita pastoral a Reguengos de Monsaraz.
1956-11-22 - Participa na sagração episcopal nos Açores do seu sucessor na Ação Católica Portuguesa, D. José Pedro da Silva.
1956-11-30 - É acometido de grave crise cardíaca.
1957-03-07 - Retoma as atividades episcopais interrompidas pela doença.
1957-03-08 - Nomeia novos membros para o Cabido de Évora e escreve "Palavras de Apresentação" para o livro "Evangelhos e Actos dos Apóstolos".
1958-04-27 - Preside à sagração na Catedral de Évora do Bispo de Egeia D. José Joaquim Ribeiro, auxiliar de Évora.
1958-05-15 - Nomeia vigário geral o seu Bispo auxiliar.
1958-06-12 - Breve que lhe concedeu o Pálio.
1958-06-28 - Visita pastoral ao Redondo.
1958-08-17 - Inauguração da nova igreja paroquial de Coruche.
1958-10-15 - Faz a oração fúnebre por alma de Pio XII nas exéquias realizadas na Sé e a 4 de Novembro preside ao Te-Deum pela eleição do Papa João XXIII.
1958-12-04 - Apresenta ao Congresso das Misericórdias a tese "Inspiração Espiritual das Misericórdias"
1958-12-12 - Preside à inauguração da Obra Social de São Julião de Monte Trigo.
1958-12-22 - Assiste às solenidades do 7º aniversário da Reconquista de Estremoz e escreve a "Apresentação" da obra "Caminhos da Terra Santa" da autoria de Alberto F. Marques Pereira.
1959-04-00 - Na semana de Estudos comemorativos do XXV aniversário da Ação Católica Portuguesa apresenta a tese intitulada "Fundamentos Teológicos do Apostolado dos Leigos".
1959-05-17 - Assiste à inauguração do Monumento Nacional a Cristo Rei em Almada.
1959-05-28 - Benze as barragens de Montargil e Maranhão.
1959-06-25 - Em Aveiro pronuncia a oração congratulatória do Milenário da cidade.
1959-10-24 - Assiste à abertura do Congresso do IV Centenário da Universidade de Évora.
1959-11-01 - Pontifica e faz homilia na igreja do Espírito Santo.
1959-11-29 - Visita pastoral a Mourão.
1959-00-00 - Escreve os prefácios de "Santos Portugueses" de João Ameal, "O Santo Padre Cruz" de Maria Joana Mendes Leal e "D. José do Patrocínio Dias", do cónego J. Gonçalves Serpa.

1960-03-30 - É condecorado com a Grã-Cruz" da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
1960-05-21 - Pronuncia o panegírico de São vicente de Paulo na sessão comemorativa do terceiro centenário realizado na Sociedade de Geografia de Lisboa.
1960-07-25 - Parte para Munique a fim de assistir ao Congresso eucarístico Internacional.
1960-08-03 - O Ministro da Marinha concede-lhe a medalha naval comemorativa da Morte do Infante D. Henrique.
1960-11-06 - Preside na Sé de Évora à abertura das Comemorações Condestabrianas.
1960-00-00 - Escreve o "Prefácio" da obra "A alma do arcebispo apóstolo", da autoria de D. Francisco Maria da Silva, editada em Braga.
1961-04-22 - Parte para Roma onde assiste à sessão de trabalhos preparatórios do concílio Vaticano II.
1961-05-28 - Preside à Peregrinação Arquidiocesana a Vila Viçosa.
1961-00-00 - Prefacia o livro "Problemas da Juventude" de a. Alves de Campos.
1962-02-24 - Nomeia novos cónegos e beneficiados da Sé de Évora.
1962-06-05 - Breve Apostólico assinado pelo Cardeal Tisserant conferindo-lhe a "Grã-Cruz" da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém.
1962-09-29 - Anuncia, em Provisão, a abertura do concílio Vaticano II marcada para 11 de Outubro.
1962-10-08 - Parte para Roma a fim de assistir à primeira sessão do Concílio Vaticano II.
1962-12-09 - Assiste em Ílhavo a duas inaugurações: o Bairro dos Pescadores e Capela e o Centro Social, inaugurado com o seu nome.
1962-00-00 - Escreve "Palavras" em "Faculdades e Normas para o Ministério Pastoral", editadas em Évora.
1963-02-02 - Publica a Provisão que anuncia à Arquidiocese a Missão que se realizará em Évora de 3 a 17 de Março.
1963-05-30 - Preside à trasladação dos restos mortais de D. Manuel Mendes da Conceição Santos do cemitério dos Remédios para o túmulo no claustro da Sé de Évora.
1963-06-05 - Profere uma alocação aos microfones da emissora Nacional na morte do Papa João XXIII
1963-07-12 - Preside e faz a oração fúnebre nas exéquias pelo Papa João XXIII.
1963-07-28 - Preside ao Te-Deum pela eleição do Papa Paulo VI.
1963-00-00 - Prefacia a 1º volume da "Obra Oratória" de D. Augusto Eduardo Nunes publicado em Évora pela Junta Distrital.
1964-02-05 - Publica a Provisão sobre a Sagrada Liturgia conforme as normas aprovadas no Concílio Vaticano II
1964-03-19 - Colabora na Pastoral Coletiva do episcopado acerca do 1º Centenário do Apostolado da Oração em Portugal.
1964-08-08 - Anuncia à Arquidiocese a próxima abertura do instituto de estudos superiores de Évora.
1964-09-12 - Parte para a 3ª sessão do Concílio Vaticano II, não tendo assistido à 2ª sessão por motivo de doença.
1964-09-14 - Envia de Roma para "A Defesa" o 1º artigo duma série de 9 artigos sobre o Concílio.
1964-10-07 - Foi consagrante do primeiro Bispo de Vila Cabral, D. Eurico Dias Nogueira.
1964-00-00 - Escreve os prefácios para os livro "As Pombas da Virgem de Fátima" do cónego Sebastião Martins dos reis e Padre Adriano Chorão Lavajo Simões e "Francisco de Assis, Renovador da Humanidade" de Guedes de Amorim.
1965-02-00 - Publica em volume uma série de artigos que escrevera em "A Defesa", sob o título de "O Seminário ... esse desconhecido".
1965-05-09 - Faz a que seria a sua última Peregrinação Arquidiocesana a Vila Viçosa.
1965-09-20 - Morreu em Ílhavo após prolongado sofrimento.
1968-12-29 - Devido ao seu empenho na construção em Ílhavo da antiga Escola de Pesca, do Bairro dos Pescadores e do Centro Paroquial, é homenageado com uma estátua em bronze da autoria do escultor Leopoldo de Almeida, colocada num amplo largo no centro da cidade, inaugurada pelo Presidente da República de então, Almirante Américo Tomás, recordando-o como o “Bispo do Mar”.

domingo, 20 de dezembro de 2020

Contributos para a religiosidade marítima em Ílhavo - Ora Bamos lá com Deus!

Em tributo ao meu bisavô, Capitão Francisco dos Santos Cálão, 
ao bisavô da Marlene, Manuel Rodrigues da Paula e aos que deram a sua vida ao mar!
Dedicado aos nossos filhos, Zé Miguel, João Pedro e Leonor 

Ílhavo, terra de marinheiros e pescadores de bacalhau! Homens de fé que, fazendo igreja dos seus barcos, lugres e dóris, sulcaram um oceano de tormentas e naufrágios em busca do sustento dos filhos e mulheres que por eles rezavam junto da imagem do Senhor Jesus dos Navegantes na igreja de Ílhavo, o seu cantinho natal.

Hoje, embora apartados dessa dura e inimaginável realidade, tentaremos dar testemunho do quão extenuante seria um dia de pesca de um pescador de linha, desde os "Louvados" (invocação religiosa com que se faz o despertar), até que, vencido pela fadiga e pelo sono, cairia no beliche para descansar umas escassas horas (três ou quatro nas vinte e quatro) retemperando forças para recomeçar luta idêntica no dia seguinte.
Lugre Santa Izabel, foto MMI


Imaginemo-nos então na década de 30, vendo a tripulação a bordo de um lugre bacalhoeiro (neste caso, e por sentimento familiar de imaginação, a bordo do navio Santa Izabel, para a campanha de 1937, conduzida pelo meu bisavô Francisco e onde curiosamente o bisavô da minha mulher também embarcou como pescador) - um total de 50 homens: capitão, imediato, piloto, motorista, ajudante de motorista, pecadores de 1.ª, 2.ª e 3.ª linha, pescadores, moços, verdes, escaladores, salgadores, cozinheiro e demais trabalhadores do bacalhau.

A madrugada, límpida e calma, é prometedora de um bom dia de pesca no Virgin Rocks (o Grande Banco, plataforma da Terra Nova).

Entremos! Mal pomos o pé a bordo ouvimos o vigia que grita em voz forte os "Louvados":

Seja louvado e adorado Nosso Senhor Jesus Cristo! Olha que são quatro horas!! Ó mestre! Dê o almoço aos homens! (Muitos dão os Louvados cantando).

Logo todos se levantam e, depois de prontos, encaminham-se para a mesa; comida a refeição a hora tão matutina, vão receber o isco para os anzóis, que varia entre sardinha, cavala ou lula; vestem os fatos de oleado compostos das seguintes peças: calça, ou saia, casaco, botas de borracha de cano até à coxa, e na cabeça enfiam o sueste. (- o chapéu de oleado assim chamado por se usar contra a chuva que vem da direção do mesmo nome.)

Em seguida, o cozinheiro dá a cada um a aviação (- merenda) para todo o dia: peixe frito, pão, um barril de água, e alguns mais felizes levam consigo aguardente sua, se a têm, metendo tudo isto no foquim. (- a vasilha própria para levar a comida semelhante aos tarros do Alentejo)

A companha (- tripulação) vai-se juntando no convés para o mata-bicho distribuído por um moço: um bom cálice de forte aguardente a cada um. Calçando luvas de lã (- luvas especiais só com um dedo, o polegar, e uma espécie de saco para os restantes dedos de modo a que, em contacto direto uns com os outros aqueçam mais rapidamente), dirigem-se então para junto dos dóris empilhados no convés, e começam a arrear, isto é, a ir para o mar. O capitão a uma borda do navio, o imediato a outra, vão arreando os botes, cada qual com o respetivo pescador dentro. 
Ao ser arreado à água o pescador descobre-se do sueste e diz com todo o respeito e muita fé, benzendo-se alguns: 

Ora bamos lá com Deus!

No dóri (-do inglês dory), toda a palamenta, ou estrafego está em ordem: foquim com a aviação; a vela enrolada num pequeno mastro desmontável; o ferro de ancoradouro; o rodo ou corda do ferro; dois riles (- do inglês reel) que é um aparelho de madeira com punhos para o fácil manejo das linhas, cada um com a sua linha enrolada e a sua zagaia ou chumbada na extremidade, sendo usada uma ou outra se o peixe exige, ou não, o isco; um bartedouro para escoar a água do dóri; um búzio para chamar em caso de perigo; agulha de marear; dois desembuchadores, ou paus com meia braça de comprido que servem para tirar o anzol do bucho do bacalhau quando este engole o isco; balde para escoar a água e que às vezes é aproveitado para deitar nele o isco tirado do peixe pescado; roleto para alar o ferro; duas forquetas; dois remos; um cesto para o trole (- conjunto de 12 linhas, ou mais, com 50 braças cada uma e para cima de 600 anzóis distanciados uns dos outros cerca de uma braça, nome que vem do inglês trawl); finalmente uma linha com 50 braças para a baliza, ou boia, com o seu grampolim. (do inglês grapnel, um pedaço de ferro ou chumbo com 5 a 6 quilos e que é lançado ao fundo do mar.)


Remando, ou com a vela içada se está vento de feição, o homem do dory navega na direção em que o seu palpite lhe diz haver peixe. Chegada a altura em que lhe parece própria, arreia o pano e começa a pesada tarefa de largar o trole. Lança a baliza à água exclamando: 

Vai na hora e no nome de Deus!

E começa a remar até que a linha da baliza fique bem esticada, e, feito isto, mete os remos dentro, largando o grampolim que prenderá a baliza no fundo do mar, segurando sempre no mesmo sítio. Começa então a iscar anzol por anzol, que vai deitando à água, deslizando o dóri à rola, conforme o vento. Largada a última das linhas, amarra a extremidade ao próprio ferro do bote e espera o tempo que lhe parecer suficiente, consoante a abundância de peixe. E neste momento está a cerca de 1700 metros da boia e a 10 milhas, ou mais, do seu navio.
Entretanto, enquanto espera, para não arrefecer e aproveitar o tempo, enfia as nepas (- espécie de ligas largas de borracha que protegem as mãos e evitam que as linhas as firam e magoem), desenrola as linhas dos riles e começa a zagaiar, operação que consiste em largar na água a zagaia até uma braça de fundo, e depois fazê-la subir e descer verticalmente cerca de dois metros, num movimento rápido de frente para trás.

A zagaia é um pedaço de chumbo com 25 cm de comprimento, brilhante, de forma oblonga, sustentando dois anzóis em baixo em forma de fateixa. E o bacalhau, que é um peixe extremamente voraz, ao ver o chumbo a brilhar e a mexer, abocalha-o julgando ser alimento. Tanto basta para ser fisgado pelos anzóis grossos da arma que o seduziu. Entre a zagaia e a linha à ainda um engenho de ferro de nome suevo (- do inglês swivel) e que serve para evitar que as linhas se distorçam.

Passadas umas horas com o trole na água, o pescador começa a pesada tarefa de o alar. Recolhe as linhas palmo a palmo, desembaraça o peixe dos anzóis, e o trole vai entrando no cesto, ficando disposto circularmente com os anzóis para dentro.
Ao apanhar o primeiro peixe, solta a mesma invocação bela, mas agora, como acto de grato reconhecimento:

Graças a Deus que já me estreei!!

Os anzóis que ficaram sem isco são iscados de novo, e o bacalhau vai enchendo os dóris. Se o peixe pescado cobre só o lugar ocupado pelo balde, é peixe a balde, ou um quintal; se chega à altura da sarreta, é peixe à sarreta, ou quintal e meio; a ré cheia é peixe à ré, ou dois quintais; a ré cheia e ainda algum à proa, é peixe à proa, ou dois quintais e meio; bote carregado são três quintais e meio a quatro; fundo tapado é o mesmo dez quilos; jaja tapada representa um quintal.


Se encheu o bote e ainda ficou por alar parte do trole, vai a bordo levar o bacalhau pescado e volta ao local onde tem o aparelho para terminar a recolha da pesca; se não carregou o dóri, dá nova trolada ali mesmo ou em sítio diferente. E assim todo o dia, até que o capitão faça a chamada; bandeira içada no topo do mastro. 
Por vezes o trole não apanha só bacalhau; pesca também guelhas ou tubarões. E é perigosa  a recolha desses animais! Ao vê-los, o pescador toma o remo e brande-o, com força e ódio, contra o seu maior inimigo, por lhe destroçar as linhas, comer e afugentar a pesca, além do perigo que representa para o próprio homem voltando-lhe o bote. E locais há ainda em que, se a recolha do trole for demorada, pode cair em cima do bacalhau preso aos anzóis uma multidão fantástica de pulgas do mar que comem o bacalhau em poucas horas, deixando apenas as espinhas.

Vendo a bandeira da chamada, todos os homens começam a dirigir-se para o navio. É quase sempre ao pôr-do-sol, mas têm ainda muito que fazer antes que se possam deitar!
Depois de longas horas a pescar no dóri, o pescador tem mais umas horas de jornada de trabalho a escalar e a salgar bacalhau. Este acréscimo de tarefas ao trabalho no dóri deixa o pescador exausto no final da jornada. Conforta-o uma chora (-caldo de cabeça de bacalhau) e pão e depois o escasso tempo de descanso. 
Santa Isabel, gesso policromado, Igreja paroquial de Ílhavo
Santa Isabel, c. 1935
gesso policromado,
Igreja paroquial de Ílhavo

Para hoje não há mais e amanhã Deus dará! 

Pois logo mais, nova jornada intensa de trabalho se perspetiva. Os "Louvados" vão voltar com o amanhecer enevoado e frio da Gronelândia.

O lugre Santa Izabel naufragou a 22 de outubro de 1958 por água aberta na viagem de regresso dos bancos da Terra Nova. 

Francisco dos Santos Calão - CAMPANHAS/NAVIOS - Águia (1921); Silvina; Rosita; Santa Izabel (1936-37); Santa Joana (1938-46); São Gonçalinho (1948-53)

Manuel Rodrigues da Paula - CAMPANHAS/Navios - 1º Primeiro Navegante (1943); Alan Villiers (1955-58). http://homensenaviosdobacalhau.cm-ilhavo.pt/header/diretorio/showppl/818 



Hugo Cálão - Ílhavo, 20 de Dezembro de 2020

domingo, 6 de dezembro de 2020

Os ex-votos "perdidos" da Igreja de Ílhavo

 Em 1937 Diniz Gomes, quase que antevendo o descaminho e volatilidade a que o património religioso das nossas igreja está sujeito, descreveu em listagem detalhada 22 dos 24 ex-votos pintados que existiam na parede lateral do altar do Senhor Jesus dos Navegantes da Igreja Matriz de Ílhavo.

Dos 24 mencionados, então, sobrevivem hoje no espólio da Igreja Paroquial de Ílhavo 19, descritos em 2007 na publicação, Senhor Jesus dos Navegantes- Mar e devoção.

Hoje, na esperança de que alguém possa informar do paradeiro dos cinco desaparecidos publicamos a listagem e fotografia dos "perdidos"!

Agradecemos a quem nos faça chegar informações, histórias e fotografias antigas dos ex-votos outrora existentes na parede lateral do altar do Senhor Jesus dos Navegantes de Ílhavo.

"Dão-se alvíssaras!"


Ex-votos em falta do Senhor Jesus dos Navegantes da Igreja de São Salvador de Ílhavo:

1 - Ex-voto Senhor Jesus dos Navegantes / Chalupa Patriota

(subscrição: Oflréçe este Cuadro ao S.re Jesus João Simões Chuva i seu Cunhado Julio Antonio da Silva. i a Mais tripulação. ass: H. B. Praça)

2 - Ex-voto Senhor Jesus dos Navegantes / Barca Glama

(subscrição: José da Costa Carolla Offerece ao Senhor Jesus a Barca «Glama» em promessa. ass: Mathias)

3 - Ex-voto Senhor Jesus dos Navegantes / Barca Glama

(subscrição: Offerece a tripulação da Glama)

4 - Ex-voto Senhor Jesus dos Navegantes / Hiate Grande Batista

(subscrição: Millagre que fez o Senhor Jezus á tripulação do Hiate Grande Batista no dia 20 de Dezembro de 1869. Estando no mar de baixo uma grande tempestade na Latit. 41-40 N. e Long. de 9-53, pediram ao Senhor Jesus que os livrasse da morte e os levasse a porto de salvamento, e logo d'ahi a pouco virou o vento, o foram caminho de Lisboa aonde entraram no dia 22 do mesmo mez, a salvam.to)

5 - Ex-voto Senhor Jesus dos Navegantes / Hiate Conceição de Aveiro

(subscrição: Hiathe Conceição d'Aveiro − Offerecido por José Marques ao Snr. Jesus)

Ver + em: http://ww3.aeje.pt/avcultur/Avcultur/ArkivDtA/Vol03/Vol03p117.htm

Hugo Cálão, 06 Dez 2020

Na foto ex-voto em falta.
Fotografia de 1972 representado ex-voto de um vapor, em falta, .


sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Párocos naturais de Ílhavo: Pe. João Manuel Cajeira

O Pe. João Manuel Cajeira nasceu em Ílhavo a 16 de Agosto de 1928, filho de Manuel Pereira Cajeira e de Maria do Nascimento. Frequentou o Seminário de Santa Joana, Aveiro e o dos Olivais em Lisboa, sendo ordenado sarcedote em 29 de Junho de 1954, na Sé de Aveiro por D. João Evangelista de Lima Vidal. Iniciou-se como Vigário Paroquial de Águeda, sendo pároco de Águeda a 2 de Janeiro de 1957, sendo nomeado a 11 de Dezembro de 1958  pároco na Paróquia de São Lourenço de Pardelhas, concelho da Murtosa, onde permaneceu, durante 37 anos. Foi, também, Capelão da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa e professor no Externato da Murtosa, em Ovar e Estarreja. Faleceu em Pardelhas a 27 de Outubro de 1995, sendo sepultado no cemitério de Ílhavo.




quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A oração do Mar - por D. Manuel Trindade Salgueiro, 1947


imagem: Igreja de Nossa Senhora da Areias de São Jacinto, pormenor do painel de cerâmica "Eucaristia do mar", 1994, Jeremias Bandarra e Zé Augusto
contributo para uma religiosidade ligada ao mar (Hugo Cálão 2020)
"De todas as obras da criação, o mar é das que mais alto proclamam a sabedoria e o poder de Deus. Alarga-se o olhar ansioso pela amplidão da sua superfície, e o espírito parece abismar-se no Eterno. Até às vezes há a impressão de que na orla do horizonte, onde o azul da água se confunde com o azul do céu - dois azuis religiosos - vai surgir o Criador que faz o mar tão vasto e tão profundo.
Do seu mistério insondável, também nós participamos. Mistério de imensidade, mistério de energia, que não cansa! Em crise revolta de tempestade e em horas pacíficas de calmaria, sempre a voz cava do mar é salmo compungido. Reza a oração de louvor, que é devida a Deus, por suas perfeições infinitas; reza a oração de agradecimento, que a sua munificiência divina merece.
Envoltos em atmosfera subtil de misticismo, aprendem os marinheiros a viver - até sem o saberem - aquele sentimento religioso, que dá asas para o voo das alturas. Imersos em imensidade, sentem a imensidade de Deus que os ampara, em contacto diário e intimo com o misterioso poder que os domina, compreendem, como poucos, o poder supremo do Invisível, tornado visível nas obras que por amor criou.
Com o mar rezam e choram, pois são orações e lágrimas as suas promessas fervorosas, os seus devotos "louvados", os seus ex-votos comovidos, a sua indescritível nostalgia da vastidão oceânica.
Talvez não consigam traduzir, em formulas teológicas, a sua sede de infinito, mas nem por isso ela deixa de ser ardente e actuante.
Também as populações ribeirinhas de Ílhavo e Aveiro, habituadas à oração do mar, aprendem a rezar com ele, mesmo quando não embarcam. Dai o bordado gracioso das capelinhas do litoral, onde desafogam as suas emoções, gritam aflitivamente as suas súplicas e entoam com entusiasmo os seus louvores.
Tinha um encanto especial a pregação do Salvador, quando fazia da proa de pequenos barcos a sua cátedra predilecta. Sempre penetrante e vigorosa, a sua palavra era acompanhada da oração do Mar de Tiberiades, que aumentava ainda o sabor religioso da sua doutrinação de luz."
(nota: aos heróicos trabalhadores do mar, que partiram para as longínquas paragens do Norte, afim de que toda a mesa portuguesa seja farta e alegre.)
- imagem: Igreja de Nossa Senhora da Areias de São Jacinto, pormenor do painel de cerâmica "Eucaristia do mar", 1994, Jeremias Bandarra e Zé Augusto

quarta-feira, 29 de julho de 2020

São Salvador, o padroeiro da Freguesia de Ílhavo

São Salvador 
calcário policromado 
atribuído à oficina de João de Ruão
c. 1575; Século XVI ; inv PILH04 0008

O património religioso da freguesia de São Salvador de Ílhavo é sem dúvida a história continuada e a mais real prova da vida social da cidade. A história de Ílhavo não se escreveria sem este. Por isso, como registo físico da nossa memória, é essencial a sua conservação, valorização e divulgação.

Honrando o seu padroeiro, a Junta de Freguesia de Ílhavo encomendou uma réplica em madeira da escultura de São Salvador, à empresa casa Arte Sacra de Fânzeres em Braga, empresa que na década de 50 e 60 do século 20 realizou para a matriz algumas das esculturas ao culto, escultura que ficará no edifício da Junta de Freguesia e que servirá para relançar a realização da festa do padroeiro da Freguesia, que se celebra no dia 6 de Agosto. Este objectivo estava traçado para o ano de 2020 com procissão, no entanto, a situação de pandemia que vivemos veio adiar este propósito festivo da sua comemoração, celebrando-se apenas a festa litúrgica com Eucaristia na Igreja Matriz no domingo dia 9.

Já em 1220, na inquirição de D. Afonso II na terra do Vouga, se faz referência a Ílhavo e sua igreja, referida no rol das igrejas da Diocese de Coimbra de 1209 como dedicada a Sanctus Salvator de padroado régio e oito casais. 

A primitiva escultura existente na matriz é uma soberba imagem renascentista em calcário policromado, atribuída à oficina de João de Ruão, provável encomenda de D. Pedro de Castilho, filho do arquiteto Diogo de Castilho, que em 1574 foi prior da Igreja de Ílhavo. 

D. Pedro de Castilho foi uma das figuras mais destacadas de Portugal durante o governo da dinastia filipina (1580 - 1640), onde ao abrigo do que ficara estabelecido nas Cortes de Tomar de 1581, a regência do Reino de Portugal devia ser sempre confiado pelo rei a um português, ou em alternativa a um membro da Família Real. Pedro de Castilho, como 7.º bispo da Diocese de Angra, foi por duas vezes Vice-Rei de Portugal, de 24 de Maio de 1605 a Fevereiro de 1608 e no ano de 1612.

Seu pai, Diogo de Castilho, importante arquiteto e escultor biscainho nascido em finais do século XV, em 1528, elaborou a reconstrução do portal e das abóbadas da Igreja de Santa Cruz, em Coimbra e, durante mais de cinquenta anos, trabalhou em parceria com o escultor João de Ruão, o que poderá explicar a renovação arquitetónica do século 16 da Matriz de São Salvador de Ílhavo, visível hoje apenas nas quatro esculturas sobreviventes do primitivo retábulo-mor que se suspeitam do seu risco: São Salvador, Santo André, São João Baptista e São Cristóvão. 

A imagem de Cristo está representada no momento da sua transfiguração, em posição frontal, de pé e descalço, vestindo túnica de cor azul ultramarino, debruada a galão de ouro e decorada com elementos vegetalistas e florais a ouro, policromia aplicada no século XIX. O tratamento da cabeça mostra a mestria das oficinas da renascença Coimbrã, de nariz recto, maçãs do rosto salientes e lábios finos rasgados na horizontal, envolvido pela barba ondulada, de cor castanha e cabeleira ondeada que cai sobre as costas. Encontra-se com a mão direita levantada, abençoando com o indicador e dedo médio e segurando na mão esquerda, junto ao tronco, orbe esférica de cor azul, símbolo do cosmos, encimada por uma grande cruz de cor castanha, símbolo da sua paixão, preconizando-o como Divino Salvador da humanidade. 

Julho 2020 Hugo Cálão, mestre em História e Património

domingo, 14 de junho de 2020

Relicário de São Francisco Marto, pastorinho de Fátima em Ílhavo

in jornal O Ilhavense de 15 de Junho 2020


Este artigo trata da identificação, salvaguarda e mediação de bens culturais de relevante interesse patrimonial e devocional na Diocese de Aveiro, pretendendo dar a conhecer a cruz peitoral-relicário do arcebispo de Évora, D. Manuel Trindade Salgueiro, montada sobre relíquia das ossadas de Francisco Marto, pastorinho de Fátima pertença do espólio da Paróquia de São Salvador de Ílhavo.
Cruz peitoral-relicário de São Francisco Marto ouro, ametista, diamantes, esmalte Ourivesaria Aliança, seculo XX, 1941 Legado do Arcebispo de Évora Dom Manuel Trindade Salgueiro à Igreja Paroquial de São Salvador de Ílhavo,  depositada por familiares no Museu Marítimo de Ílhavo
Cruz peitoral-relicário de São Francisco Marto
ouro, ametista, diamantes, esmalte
Ourivesaria Aliança, seculo XX, 1941
Legado do Arcebispo de Évora Dom Manuel Trindade Salgueiro
à Igreja Paroquial de São Salvador de Ílhavo, 
depositada por familiares no Museu Marítimo de Ílhavo

Muitos desconhecem que na igreja de Ílhavo existe esta especial relíquia de São Francisco Marto, pastorinho de Fátima, das poucas fora do santuário. 
A história cruza o momento da exumação das ossadas do pastorinho com a presença de D. Manuel Trindade Salgueiro.

Francisco, o pastorinho de Fátima, nasce a 11 de Junho de 1908 em Aljustrel, paróquia de Fátima, sendo o penúltimo dos sete filhos de Manuel Pedro Marto e Olímpia de Jesus. 

Relembrando a pandemia atual, foi vítima da epidemia da gripe pneumónica que assolou o país, também conhecida por gripe espanhola, adoecendo a 18 de outubro de 1918, pouco mais de um ano depois da última Aparição da Virgem, doença que chegara a Portugal no meio desse ano e em pouco tempo causou a morte de dezenas de milhares de pessoas.

Morre serenamente pelas no dia 4 de Abril de 1919, aos 10 anos, sendo sepultado no cemitério de Fátima no dia seguinte.
Foi canonizado juntamente com a sua irmã Jacinta pelo Papa Francisco a 13 de maio de 2017 no Santuário de Fátima e centenário da aparição.

Os seus restos mortais foram identificados e exumados, em 17 de fevereiro de 1952, e trasladados para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em 13 de março de 1952, onde repousa no braço direito do transepto. 

No dia da exumação terá sido entregue a D. Manuel Trindade Salgueiro, na altura aí presente como Arcebispo de Mitilene, um pequeno fragmento das ossadas do pastorinho doado pelo pai de Francisco, Manuel Marto, que o nosso bispo do mar devotamente resguardou juntamente com folha da oliveira da aparição, na sua cruz-peitoral. 
A sua cruz peitoral foi encomendada na Ourivesaria Aliança em 11 de Janeiro de 1941 e oferecida pelo povo de Ílhavo por subscrição a D. Manuel Trindade Salgueiro na sua sagração como Bispo de Helenópolis no dia 24 de Fevereiro de 1941 em Lisboa, missa presidida por D. António Antunes, Bispo-Conde de Coimbra e D. João da Silva Campos Neves, Bispo de Vatarba, coincidindo com o 20º aniversário da sua primeira missa.






sábado, 30 de maio de 2020

A Virgem da Penha de França de Ílhavo - Santuário Mariano 1707

Santuário Mariano e Historia das Imagens milagrosas de Nossa Senhora, 1707, Frei Agostinho de Santa Maria