in jornal O Ilhavense de Junho de 1922
Vamos senhores, não seja só demolir, nesta malfadada terra de tanta luz e de tanta beleza! Façamos também construções novas, procuremos conservar o pouco de artístico que possuímos. A igreja matriz de Ílhavo está num um estado deplorável. Aquele templo de tantas recordações saudosas, onde fomos, batizados, onde ajoelhamos a comungar pela primeira vez, onde os entes que nos foram queridos receberam a benção, antes de baixar à sepultura, onde nos uniram os laços do matrimónio; aquela casa que é a Casa do Senhor onde vão ajoelhar as nossas mães e os nossos amigos, quando nós nos vemos abraços com as intempéries e com os desgostos da vida; a nossa igreja, que deslumbra pela sua grandeza e que merecia de nós todos um pouco de atenção, está a começar a cair.
É preciso olharmos a sério para estas, coisas. E imprescindível fixarmos a nossa atenção para o que de artístico e formoso nos resta, se ainda não temos obliterado e corrompido o sentimento e o gosto
As janelas não têm vidros. O forro das naves laterais está a cair. A cimalha das torres ameaça ruir e a vegetação ali é abundante, As paredes exteriores carecem de ser caiadas - coisa que num se lhes fez desde que existem. O altar de Santo António deve ser retirado do couce da igreja. É uma vergonha e menos veneração pelo santo taumaturgo, conservar o seu altar onde está. As alfaias do culto devem ser melhor cuidadas. O pálio rico não é estimado como merece. Os paramentos ricos precisam de muitos reparos. Etc., etc. etc.