Por sobre um lindo mar de ondas tranquilas,
E debaixo dum céu de azul sereno,
Vê-se um navio todo branco,
A que dá movimento um zéfiro ameno.
Mas ei que tristes nuvens pardacentas
Começam a aparecer na imensidade;
Os ares escurecem, ventania,
E surge, então, no mar a tempestade.
Sobem vagalhões até ao céu
Em raiva imprecação que faz tremer,
Levantando no dorso o batel,
Que vê a hora ali de se perder.
Já não acode ao leme, vela grande,
Mezena e gávea, tudo foi levado,
Ficando agora, assim, casco tristonho,
Na verde imensidão desarvorado.
Trovões e vendaval e chuva e noite,
Só da faísca a aterradora luz.
O marinheiro, então, ajoelha, em ânsia,
E grita para o céu: - Senhor Jesus!
Senhor Jesus! salvai-me, senão morrem
Meus filhos de fome e a mãe doente;
Senhor Jesus! que tendes todo o mundo
Na palma dessa mão omnipotente!
- Nisto, voz retumbante, qual trovão,
Manda as ondas e ventos amainar;
Desponta o sol risonho, e só a brisa
Os beijos estende pelo mar! ...
E ali boiando como um alvo cisne
Em lago, por manhã de primavera,
Dalgum vapor que por ali passe, o barco
Auxílio e condução, com fé, espera.
- Lá vem! - gritam, chorando de alegria.
Pára o vapor, e leva então, consigo
O barco juntamente com os seus homens
Ao porto desejado e ao lar amigo!
É pois ardente a fé do nauta de Ílhavo
No seu Senhor Jesus, o Salvador,
Que os seus rogos escuta, na tormenta,
Que lhe abre o coração cheio de amor!...