São Salvador
calcário policromado
atribuído à oficina de João de Ruão
c. 1575; Século XVI ; inv PILH04 0008
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O património religioso da freguesia de São Salvador de Ílhavo é sem dúvida a história continuada e a mais real prova da vida social da cidade. A história de Ílhavo não se escreveria sem este. Por isso, como registo físico da nossa memória, é essencial a sua conservação, valorização e divulgação.
Honrando o seu padroeiro, a Junta de Freguesia de Ílhavo encomendou uma réplica em madeira da escultura de São Salvador, à empresa casa Arte Sacra de Fânzeres em Braga, empresa que na década de 50 e 60 do século 20 realizou para a matriz algumas das esculturas ao culto, escultura que ficará no edifício da Junta de Freguesia e que servirá para relançar a realização da festa do padroeiro da Freguesia, que se celebra no dia 6 de Agosto. Este objectivo estava traçado para o ano de 2020 com procissão, no entanto, a situação de pandemia que vivemos veio adiar este propósito festivo da sua comemoração, celebrando-se apenas a festa litúrgica com Eucaristia na Igreja Matriz no domingo dia 9.
Já em 1220, na inquirição de D. Afonso II na terra do Vouga, se faz referência a Ílhavo e sua igreja, referida no rol das igrejas da Diocese de Coimbra de 1209 como dedicada a Sanctus Salvator de padroado régio e oito casais.
A primitiva escultura existente na matriz é uma soberba imagem renascentista em calcário policromado, atribuída à oficina de João de Ruão, provável encomenda de D. Pedro de Castilho, filho do arquiteto Diogo de Castilho, que em 1574 foi prior da Igreja de Ílhavo.
D. Pedro de Castilho foi uma das figuras mais destacadas de Portugal durante o governo da dinastia filipina (1580 - 1640), onde ao abrigo do que ficara estabelecido nas Cortes de Tomar de 1581, a regência do Reino de Portugal devia ser sempre confiado pelo rei a um português, ou em alternativa a um membro da Família Real. Pedro de Castilho, como 7.º bispo da Diocese de Angra, foi por duas vezes Vice-Rei de Portugal, de 24 de Maio de 1605 a Fevereiro de 1608 e no ano de 1612.
Seu pai, Diogo de Castilho, importante arquiteto e escultor biscainho nascido em finais do século XV, em 1528, elaborou a reconstrução do portal e das abóbadas da Igreja de Santa Cruz, em Coimbra e, durante mais de cinquenta anos, trabalhou em parceria com o escultor João de Ruão, o que poderá explicar a renovação arquitetónica do século 16 da Matriz de São Salvador de Ílhavo, visível hoje apenas nas quatro esculturas sobreviventes do primitivo retábulo-mor que se suspeitam do seu risco: São Salvador, Santo André, São João Baptista e São Cristóvão.
A imagem de Cristo está representada no momento da sua transfiguração, em posição frontal, de pé e descalço, vestindo túnica de cor azul ultramarino, debruada a galão de ouro e decorada com elementos vegetalistas e florais a ouro, policromia aplicada no século XIX. O tratamento da cabeça mostra a mestria das oficinas da renascença Coimbrã, de nariz recto, maçãs do rosto salientes e lábios finos rasgados na horizontal, envolvido pela barba ondulada, de cor castanha e cabeleira ondeada que cai sobre as costas. Encontra-se com a mão direita levantada, abençoando com o indicador e dedo médio e segurando na mão esquerda, junto ao tronco, orbe esférica de cor azul, símbolo do cosmos, encimada por uma grande cruz de cor castanha, símbolo da sua paixão, preconizando-o como Divino Salvador da humanidade.
Julho 2020 Hugo Cálão, mestre em História e Património